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Publicado em 18/11/2023 13:22:15 • Opinião

Mudar ou não de opinião?

Não conseguimos mudar a opinião de alguém se não estivermos dispostos a mudar a nossa
Imagem meramente ilustrativa (Foto: Freepik)

O ano era 2019. O indiano Harish Tarajan, de 31 anos, era um dos maiores debatedores do mundo, tendo vencido 36 debates internacionais, um recorde mundial. Mas àquela noite ele teria um debate muito inusitado, pois seu adversário pela primeira vez não seria um humano. Era uma máquina, um projeto de inteligência artificial com uma voz feminina, um tipo de Alexa (aquele robozinho da Amazon), só que feito por um supercomputador da IBM. O tema da discussão só foi avisado aos participantes alguns minutos antes de eles chegarem ao evento, e seria: "o governo deve fornecer subsídios para pré-escolas?"

A inteligência da IBM deu os argumentos a favor e Harish contra. Em 40 minutos de uma discussão acalorada, o veredito foi que o humano venceu o debate. Os contrários ao subsídio eram 13% do público no início do debate, que também foi acompanhado por internautas. Este percentual subiu para 30% no final da discussão. O grupo que era a favor dos subsídios, 79% das pessoas no início da discussão, encolheu para 62% ao final. Num primeiro momento pode até parecer óbvio, que as pessoas na plateia torceriam mais para alguém da própria espécie do que para uma voz desalmada. Talvez. Mas tem um detalhe curioso nesse debate que merece ser mencionado: Harish não foi apenas mais humano que sua concorrente por ter um corpo, mas também por sua escolha de palavras.

O indiano começou sua fala depois da adversária e de cara mencionou que ela tinha bons argumentos, que concordava com ela em mais pontos do que discordava. De fato, não conseguimos mudar a opinião de alguém se não estivermos dispostos a mudar a nossa. Se demonstrarmos abertura e reconhecermos a validade dos argumentos daquele com quem debatemos temos muito mais chance de fazê-lo repensar. Pois esse tipo de atitude é aquilo que temos de mais humano: a empatia e a compaixão.

Foi isso que faltou na voz da IBM. O projeto tinha na memória 10 bilhões de frases e era capaz de fornecer dados com muito mais precisão do que Harish, mas nenhum artigo que a inteligência tivesse acesso naquele momento conseguiu lhe fornecer a capacidade de estimar e respeitar a opinião de seu adversário.

Mas, apesar de termos uma inteligência não-artifical, infelizmente o que observo em minha prática clínica não me convence de que sejamos muito superiores aos robôs nesse quesito. De fato, uma das maiores dificuldades desde que o homem é sapiens é conseguir se comunicar com outras pessoas sem começar uma batalha. "Eu sei o que eu disse, mas não o que o outro ouviu" disse um psicanalista famoso uma vez.

Ouvimos o que queremos ouvir e estamos mais interessados em descarregar nossa angústia sobre as costas do outro do que realmente resolver o problema que começou a discussão. Casais brigam porque discutir relacionamentos (as chamadas DRs) traz um tipo de adrenalina à monotonia da vida a dois. Pais e filhos brigam por traumas e ressentimentos não superados. Colegas de trabalho brigam porque não querem admitir que invejam e ressentem a posição do outro. Chefes brigam com funcionários porque temem não serem respeitados. Líderes de Estado também.

Como resolver isso? O primeiro passo é reconhecermos em nós mesmos o quão viciados em conflitos nós somos. O segundo é fazer um curso de oratória. Brincadeira. Mas há uma dica do próprio Tarajan que pode melhorar qualquer relação: reconheça os pontos fortes daquele com quem você conversa. É assim que se exercita a compaixão!

 

(*) Leonardo é Psicólogo e atende em Cerro Largo.

Fonte: Leonardo Stoffels / Psicólogo
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