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Publicado em 12/01/2024 12:43:46 • Opinião

A virtude do desapego

O apego é a grande prisão do ser humano
Imagem meramente ilustrativa (Foto: Freepik)

Recentemente ouvi em um podcast Rick Bonadio, um dos maiores produtores musicais do Brasil, comentar que artistas que fazem apenas um sucesso ficam com o psicológico completamente arruinado. Que na opinião dele é muito menos doloroso não fazer sucesso do que virar um ex-famoso. É o mesmo drama de pessoas pobres que ficam ricas e voltam a serem pobres, a sensação de conhecer a glória se torna uma tortura em forma de lembrança quando chega a ruína.

Esses desafios me lembram uma historinha que li na autobiografia do guru indiano Osho: Um rei, disfarçado, andava pelos bosques todas as noites e sempre se deparava com um mendigo, um jovem muito bonito, sentado na frente de uma árvore. Quando perguntado sobre por que ele não dormia, o jovem disse que não podia pegar no sono pois precisava cuidar dos seus tesouros. O rei questionou que tesouros eram esses e o rapaz disse que a majestade não era capaz de enxergá-los. Intrigado com a sabedoria do jovem, o rei revelou quem era e convidou-o ao seu palácio, para dormir em seu melhor cômodo e comer de sua melhor comida. A majestade esperava que o mendigo recusasse o convite, pois acreditava que este era um santo, mas para sua surpresa, o rapaz aceitou, dormiu várias noites em berço de ouro e comeu os melhores banquetes que o palácio tinha a oferecer.

Decepcionado com o suposto charlatanismo do jovem, o rei perguntou ao rapaz qual era a diferença entre os dois. O jovem então convidou-o para uma caminhada. Quando chegaram ao rio que marcava o limite do reino, o mendigo disse para o rei: "a diferença entre eu e você é que eu posso ficar nu debaixo de uma árvore ou posso viver como um rei por que meu tesouro está dentro de mim. Então, o senhor pode voltar, mas eu vou para outro reino". E seguiu em frente.

A lição da história aqui é sobre a importância de cultivar o desapego. O apego é a grande prisão do ser humano, ele não aparece apenas em bens materiais, mas na própria autoimagem. Tememos as mudanças porque mudar implica se desprender daquilo que acreditamos ser. Alguns têm medo da felicidade por estarem apegados a infelicidade, alguns tem medo de viver um grande amor pelo apego a própria carência, uns tem medo do sucesso pelo apego ao fracasso e outros tem medo do fracasso pelo apego ao sucesso (parece absurdo, mas até nesse último caso o apego pode dificultar o crescimento pessoal de alguém).

É possível viver sem apego, embora algumas pessoas confundam desapego com indiferença. Uma pessoa apegada, vamos tomar como exemplo um colecionador, ao ver sua casa pegando fogo e queimando seu acervo particular de livros, carros, discos de vinil, coleção de figurinhas de futebol ou que quer que for, além de entrar em desespero, pode facilmente ser paralisado por uma depressão que durará anos, pois parte de sua identidade foi literalmente queimada (a de colecionador). Agora vamos imaginar um colecionador desapegado vivendo a mesma experiência. Com certeza lágrimas brotarão, haverá um luto pelos bens perdidos e uma sensação dolorosa de que uma parte importante de sua vida se foi, mas a resiliência o fará seguir em frente com mais facilidade que a pessoa do exemplo anterior.

Se substituirmos os itens colecionáveis queimados no fogo dos exemplos acima por pessoas de carne e osso, a lógica é a mesma. É possível amar alguém, sentir dor pela perda dessa pessoa e seguir em frente. Porque, por mais que o apego diga que não, o fato é que a vida continua!

(*) Leonardo é Psicólogo e atende em Cerro Largo

Fonte: Leonardo Stoffels / Psicólogo
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