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Publicado em 23/08/2018 08:38:16 • Geral

Como chegar aos 110 anos celebrando a vida

Margarida Blanco, que nasceu em 19 de fevereiro de 1908, reside em São Luiz Gonzaga
Margarida Blanco, 110 anos de idade, fala sobre a arte de viver sorrindo pra vida

Por Karin Schmidt

"Estou com 110 anos, feliz da vida e dando risada sempre. E como é que tem pessoas tão novas que desacorçoam pela vida que tem. Não se lembram que Deus tem poder e livra a gente de tudo quanto é mal, se a gente crê na verdade de Deus". Assim começa a história de dona Margarida Blanco, que nasceu no dia 19 de fevereiro de 1908. Data que ela comprova com os seus documentos.

Viúva há 69 anos e natural do interior de Itaqui, desde mocinha ela reside na região das Missões. Morou em Cerro Largo, São Pedro do Butiá e atualmente vive com uma das filhas, em São Luiz Gonzaga.

Dona Margarida surpreende com sua sabedoria sutil, vitalidade e memória admiráveis. Mas bem maior que tudo isso é sua alegria ao falar do quanto ama a vida, sempre rindo com muita vontade.

Quem não gostaria de saber o segredo de uma vida longa, saudável e feliz. Talvez, não haja nenhum mistério e, simplesmente, a resposta esteja no coração limpo de rancor e coberto de gratidão. Segundo especialistas, cultivar bons sentimentos e pensamentos positivos fortalece o sistema imunológico, proporcionando mais saúde física e emocional.

E foi exatamente essa a minha percepção ao ouvir, com muito encantamento, uma flor de pessoa chamada Margarida. "Pra viver bem nesse mundo, tem que perdoar, ficar quietinha, não responder nada e rezar pela pessoa que insulta a gente. É difícil, mas precisa ser assim", diz com muita ternura e convicção.

Dona Margarida conta que seus pais morreram quando ela ainda era criança. Quanto a sua longevidade, ela atribui aos avós que eram africanos, sua fé, sua alegria de viver e à comida sempre feita com banha de porco. Ah sim, ela diz ainda que gosta de cantar, de ouvir música e que aprecia bastante uma cerveja preta, mas deixa claro: "tomo só de vez em quando".

Embora não teve oportunidade de estudar, dona Margarida sempre que possível fez questão de votar, pois tem plena consciência da importância do voto. Quando lhe perguntei se no Brasil ainda tem políticos honestos, ela me olhou bem de cantinho e disse: "pois é, aí eu já não sei, essa pergunta eu vou deixar passar".

Mesmo sem ir à escola, ela sabe fazer cálculos com exatidão. Agora, quando se trata do número de netos, bisnetos e tataranetos, titubeia um pouco. "Mas olha, eu sei que já passou de 70 netos, 100 bisnetos e uns 20 tataranetos", diz dona Margarida, que é mãe de oito filhos (dois já falecidos).

Lá pelas tantas, ela me perguntou qual foi a pessoa mais velha que já entrevistei. Contei que foi a dona Mila Henzel Hoffmann, de 94 anos. Eis a resposta de dona Margarida: "nossa, mas ela ainda é uma menina".

Um dos momentos mais marcantes do encontro com dona Margarida foi sua reação ao ver parte de sua entrevista no celular.

Dona Margarida Blanco faz jus ao nome de flor. Aos 110 anos, mais parece uma menina celebrando a vida, tamanha é a pureza de seu coração e de seu olhar. Ela me ensinou que sabedoria não tem a ver somente com a idade, mas com o que se aprende a fazer com ela e que, definitivamente, sorrir pra vida é sempre a melhor escolha.

Muito obrigada Vanda Kiwel Blanco, Eloir Pinto Blanco e Maria Izoldi Camargo, pela generosa acolhida e confiança em meu trabalho.
Vida longa e saúde à dona Margarida e a todos os idosos, que tanto nos inspiram com seus ensinamentos!

GRATIDÃO PELA VIDA

Margarida Blanco – Eu não reclamo da minha vida e não penso em coisas negativas. Perdi minha mãe com 8 anos de idade e fiquei sofrendo bastante, mas não reclamando. E meu marido morreu quando meu filho mais velho ia fazer 14 anos. Mas criei todos os meus filhos perto de mim, sempre trabalhando na roça, plantando feijão, milho e arroz no banhado molhado, como era o costume da época. Toda vida eu tinha essa esperança com Deus, de viver, viver, viver.

CONFIANÇA EM DEUS

Margarida Blanco – Quanto mais eu trabalhava quando era nova, mais alegre eu era. Bem pobrezinha, não tinha calçado pra botar nos pés, nem nada. Ia pro serviço e voltava dando risada. Estou com 110 anos, feliz da vida e dando risada sempre. E como é que tem pessoas tão novas que desacorçoam pela vida que tem, e não se lembram que Deus tem poder. Se a gente se lembra só de Deus, a gente se levanta em tudo que é coisa. E eu acho que essas pessoas que desacorçoam por nada tão erradas. Elas não se lembram que Deus tem poder e livra a gente de tudo quanto é mal, se a gente crê na verdade de Deus.

ORAÇÃO PELO PRÓXIMO

Margarida Blanco – Tudo isso eu tenho na minha vida. Às vezes dá o acaso que uma pessoa estranha me pede pra fazer oração pra ela. E eu faço oração, faço novena, faço tudo pelas pessoas. E tem uns que não me pedem, mas a minha obrigação é essa, porque eu sou consagrada nesse ponto, pra fazer oração pelas pessoas.

PERDÃO E HUMILDADE

Margarida Blanco – Quando ofendem a gente, tem que ficar bem quietinha. Baixar a cabeça e ficar como quem não tá ouvindo nada. Naquela hora a gente reconcentra a Deus e pede: essa pessoa tá errada, e Deus perdoa. E me perdoa também, eu não falei nada, mas a gente é pecadora igual. Por mais que eu não fizesse nada, mas eu peço perdão pra mim primeiro. Não é dizer, há eu sou santa. Não, não sou santa (risos). É o amor que tenho por Deus.

AMOR SUBLIME

Margarida Blanco – Desde pequena eu fazia cruz de madeirinha pra mim rezar. Com seis anos eu andava fazendo cruz e pedindo pra Deus me criar. E quem é que me mandava, ninguém, era Deus. Decerto era pra mim ficar assim. Até isso eu fazia, cruz de madeirinha, com a minha mãezinha bem pobrezinha. Eu levantava emburrada e saí lá fora um dia e ela dizia que ia me surrar. Saí lá fora chorando e disse: meu Jesus, eu rezo um pai nosso, e o senhor nunca deixa a mãe nos surrar. Pobrezinha, não era má pra nós. Morreu, mas nunca botou a mão em nós. Rica mãe, que até hoje não posso falar dela, porque me dói meu coração de me lembrar da mãe amorosa que eu tinha.

IDAS E VINDAS

Margarida Blanco - Uma vez eu tive morta por duas horas. O doutor junto comigo, me deu por morta e deus os pêsames para as minhas filhas. E uma das minhas filhas recebeu a hóstia por mim, nos pés da minha cama. Veio o padre e encomendou minha alma pro céu. Aí, depois que o padre saiu eu voltei de volta. Me mexi na cama, meu genro queria trazer o doutor e eu não aceitei. Nunca mais eu queria saber de doutor. Faz 52 anos que eu morri e agora estou aqui, com 110 anos.

PLANOS FUTUROS

Margarida Blanco – A minha vida é essa, eu tenho 110 anos e parece pra mim, que eu nunca vou morrer. Vou viver cada vez mais feliz, porque tenho meus netos morando perto de mim, que eu amo como amo a Deus. Em nome de Deus todo poderoso, que está me dando essa vida tão linda, tão preciosa. E sempre, até agora, a minha vida é falando com Deus. Não penso outras coisas, negativas não penso nada, graças a Deus. Eu quero viver até... Eu pra mim, não vou morrer mais. Já morri uma vez e não morro mais (risos). Um beijo bem especial e um abração dessa velhinha.

Fonte: Karin Schmidt / KS Comunicação
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