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Publicado em 01/03/2024 07:09:17 • Opinião

Padre Flávio, um Pastor Nota DEZ

Uma de suas marcas era a maneira espontânea de conviver com seus paroquianos
Flávio Adolfo Stoelben (Foto: Arquivo Pessoal)

Todos nós seres humanos somos frutos da vontade do Pai Criador e fonte de todas as formas de vida. Nenhuma criatura nasce por acaso ou por vontade própria. Todos nascemos para cumprir uma missão específica como auxiliares da construção de um reino de paz e convivência fraterna neste mundo.

Ao entardecer do último domingo, dia 25, a comunidade de Cerro Largo e de toda Diocese Angelopolitana foi surpreendida com a notícia do falecimento do padre Flávio Adolfo Stoelben, após semanas de internamento na Sociedade Hospitalar Serro Azul, por razão de piora de sua saúde, e que conforme testemunho do Pároco Pe. Marcos, faleceu serenamente, entregando sua alma ao Criador, rodeado e confortado por seus familiares. Já na própria noite de domingo, sua partida deste vale de lágrimas para lugar preparado para os justos teve enorme repercussão nas redes sociais, com centenas senão milhares de manifestações de pesar advindas de todas as comunidades onde exercera sua missão sacerdotal.

Tive a graça e o privilégio de privar da amizade do Pe. Flávio por mais de 50 de seus 82 anos de vida, pois o conheci desde a sua ordenação sacerdotal, no início da década de 1970 e desde então estabelecemos um sólida amizade e pude testemunhar seu profícuo trabalho como pastor vigilante do povo de Deus.

Mas o que desejo aqui ressaltar é que o Pe. Flávio não nasceu padre. Ele veio a esse mundo lá na Linha Santo Antonio Baixo onde foi criado e educado no seio de uma família numerosa, profundamente religiosa, humilde e de agricultores minifundiários, como a esmagadora maioria dos membros do clero da Igreja. Foi nesse ambiente familiar e de trabalho duro e muitas privações, que ele, ainda como menino imberbe, a exemplo de Samuel, em muitas noites insones escutava o chamado do Senhor e por fim aceitou o convite para seguir o Divino Mestre e ser pastor de seu rebanho, como sacerdote da Igreja Católica.

Assim por mais de meio século, o Pe. Flávio, com muita generosidade, dedicação, humildade, renúncia, lucidez, competência, respeito, carinho, alegria e entusiasmo exerceu sua missão com fidelidade sacerdotal em várias Paróquias de nossa Diocese, por mais de cinco décadas e destas, pelo menos duas na Paróquia de Cerro Largo.

Uma das marcas profundas da atuação do Pe. Flavio, era a sua maneira espontânea de conviver com seus paroquianos... Tratava a todos com o mesmo respeito e carinho, preocupado não apenas com as necessidades espirituais das famílias, mas também o aspecto social e material, econômico e profissional de cada um... Não era padre de sacristia... Não se contentava com suas funções sacerdotais e litúrgicas... Gostava de andar no meio de seu povo, lá onde moravam, viviam ou trabalhavam suas ovelhas, cumprimentava a todos indistintamente, gostava de falar com as pessoas, escutá-las para sentir de perto suas alegrias....suas tristezas...suas mazelas, levar o conforto de sua presença aos adoentados e marginalizados pois sempre tinha em mente a afirmação do Messias, quando afirmou a seus discípulos que: - "Eu vim para que todos tenham vida e vida plena e digna em abundância..."

E foi neste andejar pelas vilas e bairros, vendo as precárias condições de vida de muitas famílias marginalizadas, que ele se convenceu de que uma família, sem um teto decente com mínimas condições para abrigar seus filhos das intempéries e que nem todos os dias da semana tem pão em sua mesa nem oportunidade para ganhá-lo, em sã consciência, duas coisas não pode fazer: acreditar num Deus justo nem se ajoelhar para rezar e muito menos frequentar uma igreja. Foi preocupado com esta situação, que no ano de 1993, quando pároco de nossa Paróquia, em plena Campanha da Fraternidade que naquele ano tinha por tema o questionamento "Onde morar?" é que o Pe. Flávio procurou os poderes públicos do município, Prefeito e Vereadores, desafiando-os à prática de uma ação concreta de caridade fraterna para destinar uma área para nela implantar moradias dignas e decentes para as dezenas de famílias que viviam em condições precárias e de insalubridade total nas periferias de Cerro Largo. E foi desta iniciativa humanitária do Pe. Flávio, acolhida pelos poderes públicos, que em poucos meses surgiu a atual Vila da Fraternidade, no Bairro da Esquina Gaúcha.

É por atitudes como esta do saudoso Padre Flávio em favor do bem-estar material, social e espiritual de todas as ovelhas de seu rebanho, e pela maneira gentil, atenciosa, paciente e vigilante como dirigiu nossa paróquia é que ele merece nossas homenagens e nossa profunda gratidão por tudo quanto realizou, pois como ele mesmo afirmava, a morte não significa o fim da nossa vida... Somente o corpo fenece e nossa alma ao Senhor e fonte de toda vida retorna... Apenas nossas boas obras permanecerão na lembrança dos que ficam.

Louvemos e demos graças ao bom Deus, pela vida exemplar deste Pastor Nota Dez.

Fonte: Lauro de Wallau
Flávio Adolfo Stoelben
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