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Publicado em 03/01/2024 10:18:52 • Opinião

A incrível história de uma mulher que passou 91 dias em um banheiro

A complexidade do ser humano traz enigmas que talvez não sejam decifráveis
Imagem meramente ilustrativa (Foto: Freepik)

Essa época de natal e virada do ano é maravilhosa para alguns e horrível para outros. O ano termina e nem sempre temos a sensação de que fizemos tudo que realmente gostaríamos de ter feito, aí entra a inveja e a comparação com pessoas que supostamente tiveram um ano melhor que o nosso. Independentemente do quão decepcionante foi o seu ano, duvido ter sido pior que o de Immaculée Ilibagiza em 1994.

Ruanda é um pequeno país da África dividido entre duas etnias: os Hutus e os Tutsis. Em 94 começaram a circular boatos de que a minoria tutsi planejava ataques contra os hutus, que estavam no poder. Em resposta, este grupo retalhou aquele e o resultado disso foi um genocídio de quase um milhão de mortos. Imma era uma tutsi e para sobreviver passou nada menos que 91 dias escondida em um banheiro com pouco mais de um metro quadrado, sem pia e na companhia de outras sete mulheres. A casa pertencia a um pastor hutu, cujo filho odiava tutsis, e qualquer ruído naquele local poderia denunciar as vidas que ali se encontravam, de modo que a descarga só podia ser dada quando alguém fizesse o mesmo num banheiro ao lado. Enquanto Ilibagiza se alimentava das sobras de comida que o pastor lhe trazia a cada dois dias, sua família inteira foi assassinada, exceto um irmão que estudava em Senegal. Após esses três meses o conflito acabou, e hoje a mulher vive nos EUA, de onde conta sua história de superação.

Como algumas pessoas conseguem aguentar tanto sofrimento e outras se abalam por tão pouco? Se eu perguntasse a Imma, ela certamente diria que foi a fé em Deus que a manteve viva, já que a mesma é cristã devota. Porém, acho que a questão é mais complexa do que acreditar em uma entidade divina ou não. Será algo genético? Algum ingrediente neurobiológico secreto que algumas pessoas têm e outras não? Ou será algo da própria criação, relacionado a cultura que a pessoa está inserida, com a condição de que o sujeito internalizou valor X ao invés de Y? Será que o fator da esperança depende de fulano ter ouvido o conselho de alguém no local certo, na hora certa e no momento certo da vida?

Não é porque eu sou psicólogo que eu tenho uma resposta. A complexidade do ser humano traz enigmas que talvez não sejam decifráveis. O que eu sei é que é importante cultivar a resiliência, termo emprestado da física que refere-se à capacidade de um material para retornar ao normal depois de submetido a pressão. Se aplica a psicologia pela aceitação do momento presente, a consciência de que tudo é passageiro e que o fim do mundo está sempre um pouco mais distante do que parece.

A esperança é a última que morre, Immaculée é a prova viva disso. Se você não teve um 2023 muito agradável, espero que essa história sirva como lembrete de que você ao menos tem a oportunidade de sair do banheiro!

(*) Leonardo Stoffels é Psicólogo e atende em Cerro Largo 

Fonte: Leonardo Stoffels / Psicólogo
Immaculée Ilibagiza
Ruanda
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