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Publicado em 02/12/2023 16:56:14 • Opinião

Quem é de verdade sabe quem é de mentira?

A verdadeira falsidade é aquela que nega os desvios da própria índole
Imagem meramente ilustrativa (Foto: Freepik)

Das afirmações do senso comum uma que me diverte muito é "quem é de verdade sabe quem é de mentira", que, ao que consta, surgiu pela primeira vez numa letra do saudoso Chorão, do Charlie Brown Júnior. Esse é aquele tipo de frase que qualquer um se identifica, pois a gente sempre acha que o inferno são os outros. Todo mundo procura terapia com uma esperança inconsciente de que o terapeuta seja testemunha do sofrimento de seu paciente, que aquele confirme que este é injustiçado, que vive em mundo cruel, cercado por víboras e pessoas que não valem nada. É verdade que o mundo é cruel e injusto, mas precisamos aceitar que fazemos parte disso.

"Quando Pedro fala de Paulo, sei mais sobre Pedro do que sobre Paulo". Temos esse viés fofoqueiro de julgar sem admitir que julga, de colocar nossos desejos reprimidos como forma de condenação sobre os atos de terceiros… e nem temos consciência disso. Acontece que tem coisas sobre a nossa consciência que são pesadas demais para serem suportadas e por isso vão para um lugar que não temos acesso, mas estão lá de alguma forma, operando e agindo, julgando e condenando.

A verdadeira falsidade é aquela que nega os desvios da própria índole. Para ser íntegro é necessário reconhecer em si a própria capacidade de fazer o mal, o contrário disso é a vaidade moral. Não sei vocês, mas conheço um bom número de pessoas que querem salvar o mundo compartilhando frases bonitas na internet, mas que tem um chilique quando seus interesses pessoais entram em conflito com os de outras pessoas. "É mais fácil amar a humanidade inteira do que amar o seu vizinho", disse o escritor Eric Hoffer. Tudo é mais fácil quando feito à distância e com as relações interpessoais não é diferente.

Aliás, cabe um parágrafo aqui para dizer que o próprio ato de salvar por si só pode ser um sintoma. Salvar implica tornar-se salvador, ser salvador é um consolo narcisista; salva-se o outro na esperança de salvar a si mesmo e ser elevado à condição de herói. Isso significa que todo ato heróico é egoísta e feito com segundas intenções? Não! Reconheço e valorizo a bondade e a virtude presente nas pessoas. O que me incomoda é gente que transforma altruísmo como ponto cego para se blindar de críticas. São pessoas que estão mais interessadas em ajudar o próximo não pelo bem deste, mas para fortalecer o próprio ego.

Enfim, a humanidade não se sustenta sem hipocrisia. Temos que tomar cuidado ao acusar o outro de coisas que nós também fazemos. Com essa reflexão, concluo que uma frase mais realista seria: quem é de verdade sabe que também é de mentira!

 

(*) Leonardo é Psicólogo e atende em Cerro Largo.

Fonte: Leonardo Stoffels / Psicólogo
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