


Você já se pegou tentando "endireitar" as costas no meio do dia, depois de horas no computador ou no celular?
Pois é, má postura, músculos tensos e dores pelo corpo viraram companhias comuns na vida moderna. Mas e se existisse uma prática que aliviasse tudo isso de uma vez, com suavidade, promovendo consciência corporal e sem precisar suar muito? Pois esse sonho é real e essa prática se chama pilates.
Criado pelo alemão Joseph Pilates no início do século 20, o método é uma verdadeira filosofia de movimento. Seus exercícios combinam força, alongamento, respiração e controle do corpo em busca do equilíbrio entre mente e físico. "É uma modalidade que trabalha o corpo de forma global", afirma o fisioterapeuta Ítalo Morais, doutor em Ciências da Saúde.
Diferente de exercícios que focam nos músculos superficiais, o pilates atua nas camadas profundas da musculatura responsáveis por sustentar o corpo. "O método combina fortalecimento e alongamento da musculatura estrutural e estabilizadora", explica Adriana Batista de Oliveira, proprietária e professora do The Pilates Studio Brasil - CIA Athletica, unidade Kansas (SP).
Com isso, a prática melhora a postura e traz mais leveza aos movimentos do dia a dia, como caminhar e sentar. Além disso, o pilates fortalece especialmente o core (abdômen, pelve, lombar e assoalho pélvico), favorecendo a estabilidade da coluna, prevenindo a incontinência urinária e reduzindo dores nas regiões lombar e cervical.
O pilates também é ótimo para aumentar a amplitude natural dos movimentos das articulações e músculos. "Fazemos exercícios de alongamento que aliviam a rigidez e ajudam a controlar dores musculoesqueléticas", informa Ítalo Morais. Movimentos conscientes combinados com a respiração ampliam a mobilidade e contribuem para a prevenção de lesões.
Tem mais. Um dos grandes benefícios do pilates é o desenvolvimento da consciência corporal —entender e sentir o corpo em movimento. "Durante os exercícios, conseguimos perceber os músculos em ação e, combinados ao alongamento, as dores diminuem gradativamente", diz Kátia Regina Gomes, fisioterapeuta pela Universidade Gama Filho e professora de pilates. Essa conexão melhora o equilíbrio, o controle motor e ajuda a prevenir quedas, especialmente na terceira idade.
Isso porque, como dissemos, no pilates, o corpo é tratado de forma universal —ou seja, considera-se que ele é todo interligado e, por isso, precisa de alinhamento, estabilização, força e alongamento simultaneamente. Para Letícia Marchetto, educadora física e fundadora do Studio Let's Pilates, o método funciona como uma verdadeira reeducação corporal. "Muitos problemas surgem por padrões de movimento inadequados. O pilates corrige esses hábitos, melhora a biomecânica e evita novas lesões."
Mesmo em condições sem cura definitiva, como a condromalácia (desgaste da cartilagem do joelho que causa dor), o pilates pode aliviar sintomas e melhorar a qualidade de vida. Mas Marchetto alerta: "Para sentir os benefícios, o pilates precisa ser contínuo. Não adianta praticar por dois meses, melhorar e depois parar."
Outro diferencial do pilates é que ele reduz o estresse nas articulações durante os movimentos, ideal para quem tem dores crônicas ou está em reabilitação. "Nos aparelhos, conseguimos controlar intensidade, amplitude e carga, facilitando a adaptação", esclarece Zair Candido, educador físico e coordenador técnico da UPX Sports.
A respiração integrada aos movimentos também é importante, pois fortalece o diafragma e os músculos intercostais, contribuindo para uma postura melhor e maior estabilidade da coluna vertebral.
Depende do objetivo. Para força funcional, estabilidade articular e consciência corporal, sim. "É uma prática que muda a vida da pessoa", afirma Marchetto. No entanto, quando o foco é hipertrofia, a musculação ainda é mais eficiente. "Os equipamentos de pilates não propiciam um ganho de força tão grande quanto os de musculação", diferencia Zair Candido. A combinação entre pilates e musculação é ideal para quem deseja resultados mais amplos.
Embora o pilates melhore a respiração e contribua com o vigor físico, ele não substitui atividades aeróbicas em termos de resistência cardiovascular. "Não foi concebido para gerar picos prolongados de frequência cardíaca, como a corrida ou o ciclismo", destaca a educadora física Letícia.
Mas sessões de pilates com cerca de 50 minutos, duas vezes por semana, podem melhorar a circulação e até refletir positivamente em exames clínicos. Agora, para avanços mais significativos, o ideal é complementar a prática.
A resposta é sim, mas com ressalvas. A prática aumenta o gasto calórico e ativa a musculatura, o que contribui para o metabolismo. "Embora o pilates favoreça esse gasto, o emagrecimento é multifatorial e depende também da alimentação e do estilo de vida", lembra o fisioterapeuta Ítalo Morais.
Estima-se que uma sessão de pilates queime entre 400 e 500 calorias, um valor menor do que o gasto em atividades aeróbicas intensas. No entanto, o fortalecimento muscular promovido pela prática ajuda a acelerar o metabolismo basal, o que significa que o corpo passa a gastar mais energia mesmo em repouso.
A fisioterapeuta e professora Kátia Gomes lembra ainda que sentir satisfação na prática é fundamental para a constância. Ela costuma incentivar a associação entre pilates e outras atividades prazerosas. "O emagrecimento vai acontecer sem grandes esforços, mas sim naturalmente", afirma.
Os benefícios do Pilates incluem:
- Fortalecimento muscular global;
- Aumento da flexibilidade;
- Melhora da postura, coordenação e do equilíbrio;
- Alívio de dores musculoesqueléticas;
- Autoconhecimento e autoestima.
No entanto, a prática isolada pode não ser suficiente para emagrecimento ou hipertrofia rápidos. "Caso o objetivo seja ganho de massa ou emagrecimento a curto prazo, é recomendado associar outras modalidades de exercícios", orienta Morais.
Mais do que resultados visuais imediatos, o pilates é um exercício sobre o "durante": sobre como o corpo se movimenta e se sente. "É um olhar para dentro. Até mesmo a ansiedade diminui", acredita Kátia Gomes. Já a professora Adriana Batista reforça que os efeitos vão além da aula. "O praticante deve manter fora do estúdio o que aprendeu dentro dele".
Não existe uma receita única. A rotina ideal depende dos objetivos pessoais, nível de condicionamento e tempo disponível. "O importante é respeitar os objetivos e garantir equilíbrio entre força e mobilidade", resume Batista.
Algumas sugestões práticas:
Hipertrofia: três a quatro sessões de musculação + uma ou duas de pilates por semana;
Emagrecimento: duas sessões de pilates + três ou quatro de atividades aeróbicas (caminhada, dança, bike);
Reabilitação: três vezes de pilates + uma ou duas de atividades leves (natação, ioga, caminhada).