


Muito confundida com a endometriose, a adenomiose é uma doença em que há um crescimento anormal do tecido do endométrio dentro da parede do útero. É uma condição que atinge muitas mulheres, especialmente entre os 30 e 40 anos.
Apesar de ser considerada uma doença benigna, pode causar sintomas importantes como sangramento menstrual intenso, dores pélvicas e dificuldade para engravidar.
A identificação da adenomiose evoluiu nos últimos anos graças a exames de imagem mais precisos, como a ultrassonografia transvaginal com preparo e a ressonância magnética. Ainda assim, o diagnóstico definitivo, em alguns casos, só é possível após a retirada do útero, o que torna fundamental a realização de uma avaliação clínica cuidadosa, especialmente em mulheres que desejam preservar a fertilidade.
Além do desconforto físico e emocional gerado pelos sintomas, a adenomiose representa um desafio para a reprodução. Embora o diagnóstico não signifique necessariamente a impossibilidade de engravidar, a doença reduz significativamente as chances de gestação espontânea, principalmente em suas formas mais graves.
A adenomiose é uma doença estrogênio-sensível, ou seja, seus sintomas e progressão dependem dos níveis do hormônio estrogênio no corpo. A ginecologista Iana Carruego, da Clínica Elsimar Coutinho em São Paulo, explica que a condição se diferencia de outras doenças uterinas por afetar a parede muscular do útero, onde o tecido endometrial se infiltra.
Roberto de Azevedo Antunes, diretor da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), destaca que, em condições normais, o endométrio reveste apenas o interior da cavidade uterina. Quando esse tecido invade a parede muscular, caracteriza-se a adenomiose, o que pode resultar em dor pélvica, distorções na anatomia uterina e infertilidade. A endometriose, por sua vez, é o crescimento do tecido do endométrio em outras regiões do abdômen, como intestino, bexiga e ovários.
Entre os principais sintomas estão:
- aumento do fluxo menstrual;
- sangramentos fora do período esperado;
- anemia, que leva a cansaço extremo, queda capilar e dificuldade de concentração.
A adenomiose costuma ser diagnosticada entre os 30 e 40 anos, mas está sendo cada vez mais reconhecida em mulheres mais jovens, graças ao avanço dos exames de imagem. Entre os fatores de risco para o desenvolvimento da doença estão a menarca precoce (primeira menstruação mais cedo do que o esperado), obesidade, histórico de endometriose e cirurgias uterinas prévias.
Há também indícios de que dietas inflamatórias, tabagismo e consumo excessivo de álcool possam aumentar o risco de adenomiose, embora mais estudos sejam necessários para confirmar essas associações. Malformações uterinas também podem predispor ao surgimento da condição.
O diagnóstico pode ser feito com uso de exames de imagem como ultrassom transvaginal com preparo intestinal, ressonância magnética e histeroscopia com biópsia.
A ressonância é hoje o exame mais sensível para identificar a adenomiose. O diagnóstico precoce permite não só um melhor manejo dos sintomas, mas também possibilita o planejamento reprodutivo, seja antecipando a gestação ou preservando óvulos enquanto a reserva ovariana ainda é adequada.
Segundo Antunes, a adenomiose impacta a fertilidade de maneira complexa, principalmente por promover um ambiente inflamatório no útero e alterar a expressão de moléculas essenciais para a implantação embrionária. Além disso, as distorções da "arquitetura" do útero causadas pela doença dificultam a fixação do embrião no endométrio.
Mesmo quando a gravidez ocorre, há risco aumentado de complicações como abortamentos espontâneos, partos prematuros, hipertensão gestacional e bebês com baixo peso. Estima-se que até 60% das mulheres com adenomiose também apresentem endometriose, o que pode agravar ainda mais a dificuldade de concepção.
Carruego complementa que, em casos em que a adenomiose gera nódulos que comprometem a anidação do embrião, pode ser necessária a cirurgia para retirada dessas lesões, preservando a estrutura do útero. Técnicas de reprodução assistida, como a fertilização in vitro, também são alternativas em casos mais desafiadores.
O tratamento da adenomiose depende da gravidade dos sintomas e do desejo da paciente de ter filhos. "Os hormonais são a primeira linha de tratamento, buscando melhorar a qualidade do endométrio", explica Carruego. Pílulas anticoncepcionais combinadas, progestágenos isolados e dispositivos intrauterinos hormonais estão entre as opções.
No entanto, medicamentos que controlam a doença tendem a suprimir a ovulação, dificultando a gravidez espontânea. Em casos específicos, como em presença de adenomiomas (nódulos únicos), a cirurgia conservadora pode ser uma alternativa para restaurar a fertilidade.
Antunes reforça que cada caso deve ser avaliado individualmente. "É fundamental uma análise completa do casal, da reserva ovariana e do planejamento familiar antes de definir o tratamento", conclui.