


Por Elói Vogt (*)
A produção leiteira na região missioneira, apesar da redução significativa no número de produtores nos últimos anos, ainda responde por uma grande fatia dos recursos gerados na agropecuária. São inúmeros os fatores que contribuíram para a exclusão das famílias, entre eles, o volume de produção, qualidade do leite, falta de sucessão familiar, falta de capital para investimentos e outros. Por outro lado, aqueles que permaneceram buscaram qualificar e otimizar cada vez mais seu sistema de produção.
Como nas grandes culturas, agora é a vez de a atividade leiteira ir ao encontro de tecnologias e inovação. Grandes investimentos em máquinas e equipamentos, construções (compost barn, free stall...) prometem resolver os problemas relacionados à atividade anteriormente citados. Fala-se já inclusive em robotização da atividade. Cabe salientar que todas essas tecnologias são importantes e tem seus resultados, mas fica a pergunta: essas tecnologias são adequadas para todos os casos de propriedades da agricultura familiar?
É preciso entender que os avanços na caminhada ocorrem por passos. Em grande parte das propriedades ainda não foram resolvidos os problemas relacionados à produção de alimentos, ao controle do carrapato, à qualidade do leite (CBT e Células Somáticas), aos problemas reprodutivos (leptospirose, IBR e BVD), à nutrição, à genética, à disponibilidade de água de qualidade e em quantidade e, principalmente, ao conforto animal.
Independente de qual o sistema de produção a ser adotado, seja ele confinado, semi-confinado, a campo ou em piquetes rotacionados, para alcançar eficiência deve-se buscar incansavelmente compreender o sistema e seguir a todas as recomendações. Substituir o sistema de produção a pasto, com piqueteamento rotativo por um confinado, como o compost barn, precisa de uma boa análise de perfil da propriedade. Não basta a tecnologia em si, é preciso ser eficiente em todo o sistema.
O piqueteamento rotacionado foi adotado e ainda se adota, em alguns casos, de maneira "mais ou menos". Nem a produção a pasto, nem o sistema confinado, devem ser "mais ou menos". Como está o pasto nos piquetes? Qual a altura de entrada e saída dos animais? Acesso a água existe? A sombra nos piquetes, como está? O manejo está correto? Se todos esses aspectos foram implantados e a tecnologia em questão não atende às perspectivas de rentabilidade, aí sim o produtor deve questionar se não está na hora para partir para outra.
Sabemos que boa parte das propriedades leiteiras que adota o sistema rotacionado o faz de modo "mais ou menos". E aí tem dois pontos importantes e com grandes dificuldades na adoção por parte dos produtores: água nos piquetes e sombra.
A água como sendo um dos elementos mais presentes na composição do leite, também é indispensável na produção do mesmo. Uma vaca consome em torno de 100 litros de água por dia, grande parte dessa água, é necessária para o animal produzir. Essa é uma questão que deveria estar superada a tempo, mas sabemos que não está.
A sombra, por sua vez, também já foi tema de inúmeras palestras, debates e seminários. Mais recentemente essa sombra tão importante na produção leiteira, vem acompanhada de infinitos investimentos embalados no concreto, nos ferros, nas telhas, nos ventiladores, nos tanques com água, na cama de maravalha e outros materiais. Toda essa "tecnologia" a natureza nos proporciona, a água está aí. As árvores é só plantar. Uma boa cama que existe, no entanto, para quem tem essas condições, é a pastagem de qualidade e em quantidade suficiente ao ponto que após o pastejo, o animal deita sem se sujar.
Os pontos mais importantes num sistema confinado são sombra, água e alimento de qualidade e em quantidade à disposição dos animais. Esses pontos devem e podem ser atendidos em diferentes sistemas, mas é preciso levar um conjunto de fatores que levam em conta o perfil de cada propriedade.
Também se pode adotar o sistema silvipastoril, que é a combinação de árvores, pastagem e produção animal em um mesmo espaço físico, manejados de forma integrada, com o objetivo de incrementar a produtividade. As questões como produção de forragem e bem-estar animal são influenciadas pela variação climática local e determinam reflexos no desempenho animal. A presença de árvores, de forma adequada, favorece o bem-estar animal, e promove também melhorias e proteção à produção forrageira
Segundo a Embrapa, em sistemas silvipastoris, as árvores conservam e melhoram a qualidade do solo, evitando a ocorrência de erosão, a ciclagem de nutrientes, conservando a umidade do solo em diversos níveis de profundidades, havendo uma diminuição da dependência de insumos externos.
Outras informações podem ser obtidas no escritório da Emater/RS-Ascar de seu município.
* Extensionista Rural da Emater/RS-Ascar de Cerro Largo/RS