Por Karin Schmidt
Jornalista e Documentarista
A inserção de mulheres em atividades estigmatizadas como masculinas, entre elas na construção civil, vem crescendo consideravelmente no mundo todo. Especialmente nos grandes centros? Não, de jeito algum! Na região das Missões, têm exemplos de mulheres que atuam com maestria nesse setor, inclusive em municípios de pequeno porte. Duas delas estão em Cerro Largo, cidade empreendedora e com cerca de 15 mil habitantes.
Uma trabalha há oito anos como soldadora na Industrial Busse e, atualmente, é a única mulher na empresa que exerce essa função. "Gosto muito do que faço. É um pouco pesado, mas sinto que estou fazendo uma coisa útil e que será usada na lavoura pelos agricultores", evidencia Janete Prestes Lemes dos Santos, 44 anos de idade, casada e com dois filhos.
BEM FEITO
Ela conta que trabalhava como doméstica quando soube que haviam vagas para mulheres na Industrial Busse. No intervalo do seu serviço fez a inscrição, foi entrevistada e depois contratada. "No início os colegas homens ficaram meio assim, um pouco preocupados, mas logo acostumaram e me ajudaram muito. Fiz os cursos oferecidos pela empresa, mas foi importante ter o apoio deles", explica ao acrescentar que "é uma empresa boa de trabalhar, com patrões muito bons, plano de saúde e salários sempre em dia".
Janete fez questão de sugerir que, se houver oportunidade, outras mulheres façam o curso de soldadora e apostem no setor como alternativa de renda. "É um trabalho importante, onde a gente se sente valorizada. Somos capazes de realizar muitas coisas, porque quando a mulher faz um trabalho é com dedicação. Por isso, seja o que for, é sempre bem feito", garante.
MARCENEIRA COM ORGULHO
Marceneira há nove anos na Industrial Becker, Franceli Back Thomas, 38 anos de idade, dois filhos, natural de São Paulo das Missões e que reside há mais de 20 anos em Cerro Largo, fala com o mesmo entusiasmo sobre o valor de sua profissão. Ela relata que era dona de casa e quando decidiu se separar, antes foi procurar emprego, pois seu ex-marido não a deixava trabalhar fora.
"Vim até aqui assim que eu soube das oportunidades de trabalho. Fui contratada pela Industrial Becker sem saber bem para qual função. Mas quando eu soube fiquei tranquila, pois já estava acostumada com o trabalho pesado que eu fazia como dona de casa. E eu precisava muito de uma oportunidade", salienta.
Além dela, mais quatro mulheres atuam na marcenaria da empresa. Franceli reconhece que sua atividade é cansativa, mas deixa bem claro que faz sempre o melhor possível para seguir nesse ramo de atividade. "É uma mulher numa profissão diferente e no interior ainda têm poucas. Gosto muito de trabalhar na Industrial Becker e pretendo continuar aqui, neste setor. Sou marceneira e com muito orgulho", afirma com convicção.
PRESENÇA FEMININA
O que Janete e Franceli têm em comum?
Talvez seja o espírito empreendedor, a coragem de enfrentar adversidades e seguir em frente, a confiança de que o impossível pode ser feito quando a necessidade se torna maior que o medo de tentar, a plena certeza de que a presença feminina com muita força e dedicação, a cada dia vêm ocupando mais e mais espaços no mercado de trabalho.
Aplausos para todas as Janetes e Francelis que, independente das tarefas que executam diariamente, são mulheres que lutam por seus ideais com perseverança, atitude e sensibilidade.
Flores e homenagens são significativas, mas respeito é fundamental!
