


O argumento de Os Piratas: Em Busca do Tesouro Perdido remonta aos últimos anos do século 14, quando a Dinastia Joseon teve início, em 1392, permanecendo à frente do governo da Coréia pelos cinco séculos que se seguiram, até 1897.
Francamente desenvolvimentista, Joseon era um entusiasta da filosofia de Confúcio (551 a.C – 479 a.C), adaptava para a realidade de seu país a cultura chinesa, que considerava mais evoluída, e apoiava as artes e a ciência com o aporte financeiro necessário.
Foi nessa leva que a navegação comercial também se popularizou e diversas expedições marítimas eram patrocinadas pelo imperador todos os anos. Ao passo que os navegadores com a chancela real ganhavam os mares, campanhas extraoficiais se tornavam cada vez mais frequentes, entre as quais a capitaneada pela pirata Hae-rang, personagem de Han Hyo-joo, que descobre um mapa do tesouro que pode levá-la a uma carga de objetos de ouro roubada do palácio real, perdida no oceano.
Vai com ela o bando de sicários liderados por Wu Mu-chi, interpretado por Kang Ha-neul, que se autoproclama “o maior espadachim de Goryeo”, o reino que antecedeu o de Joseon, fundado em 918 e que deu à Coreia as características pelas quais a conhecemos hoje. Esses delinquentes também querem se apropriar do tesouro e nao só: o desconforto da convivência é ainda maior porque Mu-chi não admite que Hae-rang, uma mulher, comande o navio, função que pleiteia para si.
O diretor Kim Jeong-hoon assume o exagero em seu filme, com sequências propositalmente desarmoniosas, em que registra as tantas sublevações de uma tripulação endiabrada, os imprevistos da viagem e as tentativas de golpe que os malandros se impingem uns aos outros, sem se esquecer, por evidente, de elaborar o romance — ou o que chega mais perto disso — entre Hae-rang e Wu Mu-chi, performances interessantes dos carismáticos Han Hyo-joo e Kang Ha-neul, que se esmeram por exaltar as diferenças de temperamento de uma e do outro. Enquanto a capitã, uma mulher de visível refinamento, é a líder de um ajuntamento de vadios — e faltou ao roteiro de Chun Sung-il esclarecer de que maneira ela fora parar ali —, o personagem de Kang Ha-neul é um nobre vagabundo, que sabe o seu lugar e nunca avança o sinal em suas intenções para com a moça, por mais que o desejo o fustigue. Os brutos amam, sim, e em segredo.
Os Piratas: Em Busca do Tesouro Perdido mantém o alto nível da indústria cinematográfica da Coreia do Sul, uma grife já reconhecida pela qualidade da forma e do conteúdo.
Aludindo a ideias como morte e redenção, traição e lealdade, e as conquistas de bravas mulheres ao longo da história, Kim Jeong-hoon continua a tornar possível a festa do cinema de seu país. Eles merecem.
Os Piratas: Em Busca do Tesouro Perdido está disponível na Netflix.