Especialistas falam sobre os impactos que as baixas temperaturas podem causar à saúde, e dão dicas de autocuidado para o período de ondas de frio

A chegada de uma massa de ar frio, chamada onda polar, em diferentes regiões do Brasil a partir desta quinta-feira (29/05) acende o alerta sobre os impactos que as baixas temperaturas e o clima seco podem causar à saúde, principalmente no sistema respiratório de crianças, idosos e pessoas com doenças crônicas.

"A queda brusca de temperatura leva a uma série de alterações em nosso organismo. Em primeiro lugar, os pacientes que já têm doença na via respiratória -- como rinite, alergia, asma, bronquite, DPOC [doença pulmonar obstrutiva crônica] -- se tornam mais suscetíveis para entrar em crise e desencadear sintomas", explica Fernanda Bacceli, pneumologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

A especialista esclarece, ainda, que, no frio, o organismo gasta mais energia para manter a temperatura corporal adequada. Esse desvio de energia para manter o controle térmico interfere no sistema imunológico, podendo causar a queda da imunidade.

Além disso, as temperaturas mais baixas favorecem a circulação de vírus respiratórios, como o influenza, o rinovírus e coronavírus. O ar seco, comum nessa época, contribui para o ressecamento das mucosas, deixando o organismo mais vulnerável a infecções. A pneumologista também destaca que a permanência em locais fechados e pouco ventilados facilita a propagação de vírus e bactérias.

Diante disso, veja nove cuidados com a saúde diante da onda de frio:

1. Mantenha-se aquecido com roupas adequadas

Parece óbvio, mas usar roupas adequadas para o frio é a dica principal para manter-se aquecido. "Os efeitos da baixa temperatura no organismo reduzem significativamente se utilizarmos a roupa correta", afirma Bacceli. Isso inclui o uso de casacos, cachecóis, gorros, luvas, calças, meia-calça, entre outros itens necessários para controlar a temperatura corporal.

Crianças, principalmente aquelas em período escolar, também devem ser bem protegidas. De acordo com Aline Magnino, diretora médica da Clínica Pediátrica da Barra, no Rio de Janeiro, os pequenos possuem um sistema imunológico ainda em desenvolvimento, o que os torna mais suscetíveis e vulneráveis a infecções respiratórias, hipotermia e outras complicações relacionadas ao frio.

2. Permita a ventilação do ar

Em dias frios, é comum manter janelas e portas fechadas com o objetivo de tornar o ambiente mais aquecido. No entanto, essa prática pode trazer riscos à saúde, pois impede a dispersão de vírus em espaços internos.

"Ventilar o ambiente mesmo em dias frios é muito importante, tanto para reduzir a disseminação de infecção viral, como também para reduzir a proliferação de ácaros dentro da casa", afirma Bacceli. E isso nos leva à próxima dica.

3. Mantenha os ambientes higienizados

É importante manter os ambientes devidamente higienizados durante o frio para evitar a proliferação de ácaros que podem intensificar crises alérgicas, de asma e de bronquite.

"Há uma redução comprovada na higienização do ambiente em tempos muito frios. E é importante prestar atenção e manter a higienização e organização adequada dentro de casa", afirma a pneumologista.

4. Beba bastante água

Nos dias mais frios, é comum as pessoas terem mais dificuldade para beber água, mas manter a hidratação é importante para preservar a integridade das vias respiratórias e para auxiliar o funcionamento geral do organismo, segundo as especialistas.

5. Faça lavagem nasal

Quando a temperatura cai, o ar costuma ficar mais seco, contribuindo para o ressecamento das mucosas e deixando o organismo mais vulnerável a infecções. Nesse sentido, a lavagem nasal pode ser uma aliada para a hidratação das mucosas e para a remoção das secreções.

"A lavagem nasal é sempre interessante para todas as pessoas com e sem doença respiratória, mas principalmente para aqueles alérgicos e com doença respiratória", explica Bacceli.

A lavagem nasal com soro fisiológico pode ser feita de uma a duas vezes por dia, com o auxílio de uma seringa ou garrafas específicas para lavagem, ou com medicamentos feitos apenas à base de soro no formato de spray.

Crianças também podem fazer lavagem nasal, de uma a três vezes por dia, ou conforme orientação do pediatra.

6. Evite o uso de aquecedores e prefira umidificadores

O uso de aquecedores e lareiras nessa época do ano é bastante tentador, no entanto, pode trazer mais prejuízos do que benefícios.

"O uso de aquecedor parece que soluciona o problema, mas, na verdade, leva a duas situações complicadoras: resseca demasiadamente o ambiente e aumenta o choque térmico na entrada e saída deste ambiente", alerta Bacceli.

A pneumologista orienta que, em casos de extrema necessidade do uso de aquecedores, uma estratégia é utilizar uma bacia molhada ou um umidificador de ambiente para tornar o ar mais úmido e, assim, evitar o ressecamento das mucosas.

7. Cuidado com o banho (principalmente de crianças pequenas)

Na época de frio, é comum as pessoas tomarem banhos quentes, mas a alta temperatura da água pode trazer danos à pele.

A dermatologista Márcia Linhares, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SDB) explica que a água quente aumenta a secreção da glândula sebácea, deixando o couro cabeludo mais oleoso e facilitando a proliferação de fungos que causam caspa. Além disso, no corpo, o banho quente quebra a barreira que protege a pele e pode desencadear dermatites, doenças que costumam se agravar com a baixa umidade típica do inverno.

Por isso, o aconselhável é que os banhos sejam tomados com a água em temperatura morna, por volta dos 37 ºC. Para as crianças pequenas, os cuidados devem ser redobrados: os banhos devem ser curtos, com água morna (entre 35 ºC e 36 ºC), conforme orienta Magnino.

Após o banho, é fundamental secar bem a criança, especialmente em regiões como pescoço, axilas e pés, e vesti-la com roupas quentes e confortáveis logo em seguida.

8. Mantenha uma alimentação equilibrada

A alimentação balanceada, com frutas e verduras ricas em vitaminas, especialmente a vitamina C, fortalece o sistema imunológico e oferece maior resistência a infecções.

Suplementos vitamínicos e de minerais, como zinco e selênio, apenas são necessários em casos de deficiências nutricionais e devem ser tomados com prescrição e orientação médica.

9. Atualize a carteira de vacinação

Por fim, mas não menos importante, é fundamental manter a carteira de vacinação atualizada. A imunização contra a gripe, a pneumonia e a Covid-19 continua sendo uma das formas mais eficazes de evitar complicações respiratórias, especialmente entre os grupos mais vulneráveis.