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Publicado em 27/04/2019 09:56:24 • Agronegócio

O impacto da peste suína na China nas exportações brasileiras de soja

Preços da carne suína na China poderão subir mais de 70% no segundo semestre
Cerca de 130 milhões de suínos já morreram na China, desde agosto de 2018

Os preços de carne suína no mercado global podem aumentar drasticamente conforme a febre suína africana se espalha pela criação destes animais na China, onde está metade da população mundial de porcos

Uma das maiores preocupações da demanda mundial por soja, a peste suína africana continua se espalhando pela China e causando ainda mais temores entre os suinocultores. O governo da nação asiática confirmou no final da semana passada que dois locais da província de Hainan, uma ilha na costa sul, confirmaram novos casos da doença e este era um local que autoridades acreditavam estar livre do contágio.

Com essas confirmações, nas cidades de Danzhou e Wanning, já é possível dizer, como noticiou a agência internacional Reuters, que todas as províncias do país já contabilizam casos da peste, desde a primeira notificação, em agosto de 2018. Ainda à Reuters, o analista do mercado de animais Yao Guiling, da Guantong Futures, disse que a situação está fora de controle. Nos primeiros três meses de 2019, a produção de carne de porco já apresenta uma redução de 5,2% em relação ao mesmo período de 2018, de acordo com números do Escritório Nacional de Estatíticas da nação asiática, e a projeção é de que continue caindo de forma significativa nos próximos meses.

Para o Rabobank, o número de animais mortos ou abatidos em todo o país durante a epidemia e ainda de acordo com seus especialistas, "não há oferta no mundo que possa suprir todo esse déficit".

Os impactos nos preços da carne suína, a mais consumida pelos chineses, já disparou em março e poderia subir até 70% no segundo semestre deste ano, conforme declarou um representante do Ministério. A pasta informa ainda que a alta no mês passado em relação ao anterior foi de 6,3% e de 7,6% se comparado há um ano. Esta movimentação poderá ser, portando, o maior responsável pela inflação do país neste ano. "Os preços da carne suína têm grandes impactos para a inflação nos mercados chinês e demais economias emergentes", explica Nick Shiels, estrategista de commodities do Scotiabank à CNN.

Afinal, o número de porcos nas fazendas já é menor e em março já se pôde observar uma baixa de 18,8% em relação ao mesmo mês de 2018. O total de porcas reprodutoras caiu, por sua vez, 21% no mesmo período e esta é a maior baixa em 10 anos.

Segundo noticia a agência internacional Bloomberg, há um verdadeiro "pânico instalado" entre os produtores chineses neste momento e, diante deste quadro, cerca de 80% das fazendas criadoras de suínos estão optando por não reabastecer e recompor seus animais até este momento, conforme informações do Ministério da Agricultura.

Especialistas afirmam que alguns pequenos produtores que tentaram recompor seus rebanhos foram novamente acometidos pela doença em alguns de seus animais. Outros têm evitado trazer novos porcos com medo de contgio de propriedades vizinhas ou temendo até mesmo que o vírus ainda esteja presente nas fazendas.

Peste Suína x Soja

Toda essa crise na suinocultura chinesa tem promovido uma menor demanda da China por soja. Além da disputa comercial travada com os EUA há mais de um ano e de buscar alternativas para a oleagniosa, a nação asiática, com uma menor demanda interna por farelo para a produção de ração, tem reduzido suas compras de soja.

E estes são os três principais fatores que, ao menos neste momento, ajudam a desaquecer o ritmo da demanda pela commoditie, como explica o economista e analista de mercado da Granoeste Corretora de Cereais, Camilo Motter.No primeiro trimestre deste ano, as importações de soja da China recuaram 14%, em uma combinação, justamente, destes fatores.

Para o vice-chairman da Associação das Indústrias de Óleos Vegetais da China, Chen Gang, em entrevista à Bloomberg as importações de soja da nação asiática neste ano comercial deverão cair para algo entre 85 e 86 milhões de toneladas. O USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) ainda estima 88 milhões. Ainda segundo Gang, a demanda por farelo de soja deverá apresentar uma redução pela primeira vez em anos na China.

Além disso, se espera que o país asiático leve alguns anos para se livrar da doença, se reestruturar e recompor seu plantel. Para Arlan Suderman, economista chefe de commodities da INTL FCStone, toda ess recuperação poderia levar algo entre cinco e sete anos. Dessa forma, acredita também que pelos próximos dois anos, ao menos, as compras chinesas da oleaginosa também poderão ser um pouco menores.

Peste Suína x Suíno/Frango

Se os chineses comprarão menos soja, por outro lado, deverão continuar comprando mais carne suína e o Brasil deverá ser seu principal fornecedor, segundo acreditam analistas e consultores de mercado. Como explicou o presidente da ACSURS (Associação dos Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul), Valdecir Folador, se a demanda chinesa pelo produto brasileiro aumentar, a produção gaúcha deverá crescer de forma considerável para atender a este consumo maior.

"Nós sabemos que grande parte da carne suína importada de Hong Kong acaba sendo destinada para a China, e somando os dois mercados representam cerca de 31% do volume exportado pelo Rio Grande do Sul", destaca Folador em entrevista ao Notícias Agrícolas na segunda-feira (22). "O fator China é positivo, vem trazendo esse aumento de volume com o efeito de notícias sobre o potencial de importação, e é nesse sentido que o mercado reagiu", completa.

De acordo com um trader ouvido pela T&F Consultoria Agroeconômica, "há algumas empresas de abate de frangos e suínos que estão montando um segundo turno noturno de trabalho, para se prepararem para atender à alta demanda da China por carnes".

Na visão do analista da T&F Luiz Fernando Pacheco, esta melhora na perspectiva de exportação de frango e suíno para o maior importador mundial deverá reativar os mercados de milho, farelo de soja e farelo de trigo nos próximos meses. Esta foi a principal razão pela qual os preços médios do milho no interior do país subiram 0,31%, para R$ 35,24/saca, em Campinas, segunda-feira (22), depois de caírem durante dois dias consecutivos no final da semana passada. Mesmo assim, os preços ainda estão 6,80% abaixo da última cotação de março, como mostra o quadro acima.

Otimismo com valor agregado

Em tom otimista, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou a jornalistas em evento da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) que "com certeza diminuirão as nossas exportações de soja [à China]. Mas nós vamos agregar valor. Em vez de vender soja a 500 dólares a tonelada, vamos vender a proteína a US$ 2 mil a tonelada, seja frango, bovino ou suíno".

"Eles [chineses] pediram para levar os relatórios com as novas perguntas, os novos questionamentos. Então já estamos mandando para discutir lá com eles… Estamos levando as informações de outras plantas… A gente acredita que será marcada uma nova visita ao país para fazer vistoria", explicou a titular do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Fonte: Agências de Notícias
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