Quando Younger estreou, pouca gente imaginava que uma comédia sobre idade, mercado de trabalho e reinvenção pessoal se tornaria um dos títulos mais comentados dos últimos anos. Criada por Darren Star, o mesmo nome por trás de Sex and the City, Beverly Hills, 90210 e Emily em Paris, a série conquistou o público ao falar de um tema cada vez mais atual: recomeçar quando o mundo insiste em dizer que já é tarde demais.
Com todas as sete temporadas disponíveis na Netflix, Younger ganhou uma nova vida no streaming e voltou ao centro das conversas, especialmente entre quem busca séries leves, inteligentes e com personagens femininas fortes.
A trama acompanha Liza Miller, vivida por Sutton Foster (vencedora de dois Tony Awards, por trabalhos na Broadway), uma mulher de 40 anos que vê sua vida desmoronar após um divórcio complicado. Sem dinheiro, com dívidas acumuladas e com a filha indo morar fora do país, Liza se vê obrigada a reconstruir tudo do zero em Nova York.
O problema surge quando ela tenta voltar ao mercado de trabalho e percebe que sua idade é um obstáculo quase intransponível. Depois de inúmeras recusas, Liza entende que o mercado editorial não está disposto a dar segundas chances a mulheres da sua geração.
É aí que surge a virada da série. Após ser confundida com alguém mais jovem em uma noite fora com sua melhor amiga, Maggie (Debi Mazar), Liza decide assumir uma identidade falsa: ela passa a se apresentar como uma mulher de 26 anos para conseguir um emprego de nível inicial em uma editora.
Disfarçada de jovem millennial, Liza consegue um cargo como assistente na Empirical Press, onde passa a trabalhar diretamente com Diana Trout (Miriam Shor) e cria uma forte amizade com Kelsey Peters (Hilary Duff), uma editora ambiciosa e talentosa da mesma idade que Liza finge ter.
A partir daí, Younger explora as consequências dessa mentira, que vai muito além do ambiente profissional. Liza precisa equilibrar sua nova carreira, amizades, romances e o medo constante de ser descoberta, enquanto tenta entender quem ela realmente é nessa nova fase da vida.
Um dos grandes trunfos de Younger é como a série trabalha os conflitos entre gerações de forma afiada, mas sem cair em caricaturas. Millennials, Gen X e baby boomers se chocam constantemente, especialmente no mercado editorial, que vive sua própria crise de identidade diante das mudanças digitais.
No campo amoroso, a série também divide opiniões. Liza se envolve com Josh (Nico Tortorella), um tatuador de 26 anos, e com Charles Brooks (Peter Hermann), um executivo mais velho da editora. O famoso “Team Josh” versus “Team Charles” se tornou parte fundamental da experiência de assistir à série, alimentando debates intensos entre os fãs.
Apesar da premissa leve, Younger nunca foge de temas profundos. A série discute ageísmo, machismo no mercado de trabalho, pressão estética, maternidade, ambição feminina e a ideia de que mulheres precisam “desaparecer” após certa idade.
Liza não quer ser mais jovem apenas por vaidade. Ela quer ser ouvida, respeitada e ter oportunidades reais. A mentira funciona como um espelho incômodo para uma sociedade que insiste em valorizar juventude acima de experiência.
A série é baseada no livro Younger, de Pamela Redmond Satran, lançado em 2005. A autora revelou que a ideia surgiu após ler reportagens sobre cirurgias plásticas extremas, mas decidiu seguir um caminho diferente. Em vez de transformar sua protagonista fisicamente, ela criou uma mulher que apenas finge ser mais jovem, o que abriu espaço para reflexões mais sociais e menos superficiais.
Com a chegada da série à Netflix no Brasil, Younger encontrou um novo público. Em um momento em que debates sobre carreira, identidade e recomeços estão mais presentes do que nunca, a história de Liza soa ainda mais atual.
Além disso, o envolvimento de Darren Star cria uma ponte natural com fãs de Emily em Paris, que encontram em Younger um tom parecido, mas com temas mais maduros e reflexivos.
No fim das contas, Younger é uma série sobre se reinventar, errar, recomeçar e entender que nunca é tarde para ocupar espaços que tentaram te negar. E talvez seja exatamente por isso que ela continua tão relevante.
