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Publicado em 08/04/2023 14:53:15 • Opinião

O papel do acaso em nossas vidas

Temos muita dificuldade em lidar com coisas que não controlamos

Em 1982 foi lançado um filme chamado O Enigma de Outro Mundo (The Thing), de John Carpenter. A história se passa em uma estação de pesquisa na Antártica, onde um grupo de cientistas encontra uma forma de vida alienígena capaz de se transformar em qualquer ser vivo, o que resulta em uma chacina, pois o alien não era “do bem”. O longa hoje é reverenciado com um dos melhores filmes de todos os tempos, tendo servido de influência para muitos outros filmes, séries e jogos, especialmente de ficção científica e terror. Mas isso somente hoje, pois…na época os críticos odiaram. The Thing foi por muito tempo considerado um filme niilista (sem sentido), e que não tinha nenhum propósito que não o de entreter. A bilheteria foi muito modesta, e o diretor do filme até hoje se ressente por ter tido uma carreira mediana. Mas por que algo que prometia tanto teve tão pouca visibilidade? Eu não sei, e os especialistas em entretenimento e cultura pop também não. A questão é: será que poderíamos realmente saber?

Tem coisas na vida que não tem explicação. O nosso cérebro é viciado em encontrar padrões mesmo onde não existem. É por isso que vemos rostos em paredes, nuvens e fantasmas em fotos antigas. Tudo precisa fazer sentido, para que a vida fique em ordem e seja mais controlável. Aliás, "controle" é uma palavra importante aqui, temos muita dificuldade em lidar com coisas que não controlamos, pois estamos sempre com medo do desconhecido, do imprevisível e do aleatório.

Não reconhecemos o quanto o acaso influencia as nossas vidas, e por isso inventamos o conceito de destino, ordem divina, sonhos que profetizam qual animal apostar no jogo do bicho e todas essas coisas que tornam a vida menos aleatória. Um bom exemplo do vício em encontrar padrões pode ser encontrado nos antigos Ipods Shuffle. Caso você não lembre, antigamente existia um aparelho de mp3 desenvolvido pela Apple em que as pessoas ouviam músicas sem ter uma tela que lhe permitisse escolher a faixa, era tudo aleatório (Shuffle, como o nome já dizia). Mas os usuários do produto acreditavam que não. Há quem jurasse que o dispositivo seguia sempre uma ordem e repetisse algumas músicas mais do que outras. Para resolver esse falso problema, a Apple teve que mudar o programa que embaralhava as músicas e tornar o processo “menos randômico” e assim fazer com que "a função ficasse menos aleatória para parecer mais aleatória", nas palavras do saudoso Steve Jobs.

Agora vamos à pergunta de milhões: podemos culpar o acaso pelos nossos fracassos? Penso eu que essa é uma pergunta que precisa de uma certa inteligência emocional para que cada indivíduo responda adequadamente. Mas em alguma medida sim, o acaso favorece uns mais do que outros. Isso é uma desculpa para nos tornarmos acomodados e irresponsáveis pela vida e pelo que podemos fazer no momento presente? Absolutamente não! Pois ao contrário do que diz a música do Titãs: o acaso não vai te proteger enquanto você andar distraído!

 

(*) Leonardo Stoffels é Psicólogo e atende em Cerro Largo

Fonte: Leonardo Stoffels / Psicólogo
acaso
O Enigma de Outro Mundo
(The Thing)
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