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Publicado em 19/05/2023 17:50:01 • Opinião

Memórias

Toda memória é imaginária, só existe aquilo que imaginamos que vimos
Crédito: Reprodução / Dráuzio Varella

A ciência diz que a gente não lembra de nada que acontece antes dos 5 anos, que aquilo que a gente acredita lembrar são memórias falsas. Verdade ou não, a lembrança mais antiga que eu imagino ter é uma de eu sentado no tapete da minha sala enquanto pensava "que idade eu tenho mesmo?" "Três", respondi mentalmente e ainda lembro de levantar três dedos para demonstrar o que estava pensando naquele momento.

Essa memória provavelmente é falsa, mas o interesse do ser humano é que o que ele pensa que lembra produz tanto resultado quanto aquilo que ele "realmente" lembra. É que toda memória é imaginária, não existe um arquivo com imagens em forma de filme registradas pelas nossas retinas, só existe aquilo que imaginamos que vimos. Uma memória falsa nesse sentido pode ser bem perigosa, não são poucas as pessoas que imaginaram um trauma sobre um acontecimento fictício e hoje sofrem as consequências disso. Se um sujeito imagina ter sofrido abuso sexual na infância pode jurar pelo resto da vida que isso aconteceu mesmo quando a memória foi implantada por terceiros (alienação parental, por exemplo).

Seja como for, a memória é uma coisa traiçoeira não só por ser falseável, mas por não estar disponível quando mais precisamos dela. Recentemente fui dar um passeio e encontrei uns amigos pelo caminho, conversamos e do nada o assunto foi parar em espionagem. Lembrei de um excelente livro que li na pandemia. "Stasilandia", sobre como funcionava a Stasi, polícia secreta alemã na Alemanha Oriental. Só que eu não recordava de nada sobre o conteúdo que fosse suficiente para preencher o assunto. Voltei para casa me sentindo burro. De que adiantou ler se não recordei do que li? Era essa a mesma sensação que eu tinha quando estudava muito para uma prova na escola e faculdade e depois o conteúdo desaparecia da minha consciência na hora do exame.

Ter uma supermemória é um superpoder e parece maravilhoso em teoria, no entanto não é uma coisa tão agradável na prática. Existe uma condição rara chamada de hipermnésia, em que uma pessoa não esquece de nada. Os hipermnéticos podem até se dar bem nos vestibulares, mas vivem exaustos e atormentados pelos fantasmas do passado. Imagina não esquecer de absolutamente nenhuma experiência e lembrar com uma precisão cinematográfica todos os detalhes de sua vida, inclusive os piores dias já vivenciados?

Prefiro reler meu livro da Stasi umas cinquenta vezes do que não esquecer certas coisas!

 

(*) Leonardo Stoffels é Psicólogo e atende em Cerro Largo

Fonte: Leonardo Stoffels / Psicólogo
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