Existe uma ideia cravada no senso comum de que as pessoas inteligentes são menos felizes. Se a afirmação for lançada desse jeito, eu discordo, no entanto se a frase for "pessoas que pensam demais são mais infelizes" eu tendo a concordar. Parece contraditório, mas ser inteligente e pensar demais são coisas não necessariamente relacionadas. Pensar demais é um sintoma de pessoas obsessivas, o que em inglês chamam de "overthinking". E pensar demais é uma forma de ignorância!
Qualquer pessoa que tem Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) em algum ponto da vida vai aprender que a melhor forma de resolver determinados problemas é simplesmente não pensar sobre eles. Não se trata de ignorar a questão por completo ou de ser completamente indiferente a ela, mas entender que alguns problemas são criações da propriamente mente em si. Se eu tiver medo de ir ao dentista, quanto mais eu penso no meu dentista mais medo eu tenho e menos chances terei de aderir ao tratamento necessário que meus dentes precisam. A mente é uma coisa muito paradoxal, se eu tentar não pensar na cor azul, eu automaticamente me lembro do céu, do mar ou de uma piscina o que me faz pensar ainda mais na cor azul. Existe uma linha tênue entre pensar um problema até resolvê-lo e pensar até agrava-lo, a diferença entre o veneno e a cura é a dose.
Pensar demais faz as coisas perderem o sentido. É tipo aquela história de que quando a gente fala uma palavra com muita frequência, o significado dela se transforma. Por exemplo, se você ficar repetindo em voz alta a palavra "mamão", os sons das sílabas logo vão parecer algo diferente da fruta e sim uma cacofonia que talvez lembre um aquecimento vocal ou um beatbox.
É preciso muita disciplina para "pensar menos" numa coisa que não precisa ser pensada com muita frequência, disciplina essa que ajuda na tomada de decisões. Dizem, inclusive, que é por isso que o Mark Zuckerberg (Facebook) usa sempre o mesmo modelo de camiseta preta, para poupar neurônios e não ter que fazer escolhas tão cedo de manhã. Acontece que, se toda vez que formos decidir entre algo, pensarmos minuciosamente cada escolha como se fosse a mais importante da vida, ficaremos irracionais, pois o objeto da escolha quando pensado com muita frequência se torna algo como o mamão que citei antes (perde o sentido). Desse modo, consigo imaginar Zuckerberg enlouquecendo facilmente se todo dia tivesse que escolher o look perfeito para o trabalho.
Em suma, ser inteligente é saber a hora de pensar menos, para que as coisas continuem tendo sentido. Falando em sentido, esse texto fez algum para você? Acho que pensei tanto que já não sei mais o que dizer. Melhor parar por aqui…
(*) Leonardo Stoffels é Psicólogo e atende em Cerro Largo.
