Por Leonardo Stoffels
Uma história difundida na internet há muito tempo é de a de que o rapper Eminem certa noite deixou de comparecer à cerimônia do Oscar para ficar em casa assistindo desenhos animados com a sua filha (na ocasião, ele não só foi indicado ao prêmio, como venceu na categoria de melhor canção original por “Lose Yourself”). Se essa história é verídica eu não sei, mas vamos acreditar que sim, apenas para extrair dela uma virtude: a virtude de saber abrir mão.
Com a morte do grande Jô Soares, viralizou um vídeo de 2014 em que o apresentador comentava um dilema que havia presenciado com seu filho, recém falecido na época. O garoto, autista, estava com o pai em uma livraria e queria levar para casa doze livros, quando este pediu para aquele escolher apenas metade, o filho respondeu “se eu não puder levar os doze, não levarei nenhum, pois assim estarei perdendo seis”. Sim, escolher é sempre perder, pois toda escolha é uma renúncia.
Isso me lembra alguns episódios que eu presenciei quando era criança e ia na casa dos meus amigos abastados o suficiente para ter TV a cabo em casa (em meados de 2000 era realmente caro a TV por assinatura). A cena era sempre a mesma: o amigo ficava zapeando as centenas de canais incríveis disponíveis (para quem só tinha Globo e SBT em casa aquilo era coisa de outro mundo) e não deixava parado no mesmo canal por mais de um minuto, pois havia sempre coisa mais interessante para se ver em outro canal (ou ao menos assim lhe parecia). Hoje enfrento o mesmo dilema, quando abro a Netflix e preciso escolher um filme entre dez, a única certeza que tenho é que deixarei de assistir nove. É por isso que é tão difícil se satisfazer na era do streaming, é tanto vídeo, filme, série, música, livro…tudo disponível na palma da mão e em apenas alguns cliques, não há mais uma “conquista” ou enorme sacrifício financeiro para se ter certos tipos de mídia.
Quando tudo vem fácil, fica mais difícil se contentar com pouco. É por isso que dizem que os ricos sempre querem mais do que os pobres, pois enquanto que estes têm pouco e não acreditam que terão mais, aqueles têm muito, mas sabem que conseguem mais.
E o que isso tudo tem a ver com Eminem? Bem… às vezes no meio de tanta coisa incrível o que a gente tem que fazer mesmo é a escolha mais simples. Pois são as coisas pequenas que tornam a vida mais grandiosa, como ficar em casa assistindo desenhos animados com a família (mesmo que demore uma eternidade para se escolher o desenho em questão!).
