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Publicado em 24/02/2023 20:02:56 • Opinião

Um tapete nostálgico

Desfazer-se de objetos preciosos é uma coisa realmente difícil

Era um tapete grande, com estampas abstratas e desenhos que eu podia imaginar histórias inteiras. Foi meu refúgio por muitos anos, um lugar onde eu brincava, lia e sonhava acordado. Lembro-me de passar horas e horas brincando no tapete, criando cidades imaginárias com os meus brinquedos, inventando histórias para os bonecos e os carrinhos. Era uma forma de escapar da realidade e viajar para outros mundos. Esse tapete foi uma das recordações mais importantes da minha infância.

E hoje, o que aconteceu com esse tapete? Não sei. Nunca mais vi, e ainda bem: não podemos nos apegar a todos os nossos objetos, por mais que alguns deles representem algo que é quase que uma extensão de nossa identidade. Um filme nacional que ilustra muito bem esse apego nostálgico que temos a objetos é Aquarius, de 2016. O longa tem como enredo a tentativa de uma construtora de comprar um prédio antigo, que só não é vendido pela resistência de uma única moradora, uma mulher de terceira idade. Aquarius narra então o cotidiano dessa moradora, interpretada brilhantemente por Alice Braga, e como a passagem do tempo e suas memórias estão atreladas à mobília do prédio em questão. E como não havia dinheiro no mundo que convencesse essa mulher a ir embora de seu apartamento.

Desfazer-se de objetos preciosos é uma coisa realmente difícil. A última vez que senti a dor desse desapego foi há alguns meses atrás, quando tirei da parede um poster de edição especial da revista Rolling Stone com uma ilustração dos 500 maiores artistas de todos os tempos. Tava na hora mesmo, poster é coisa de adolescente, adulto prefere quadros, mas eles são muito caros (por isso ninguém se desfaz de um quadro!). De vez em quando eu bem que abro meu armário e dou uma olhada em recordações realmente antigas, os velhos cadernos de escola, provas, convites de festas e todas essas coisas que fazem a gente querer voltar a ser criança. Um pouquinho de saudosismo não mata ninguém. A diferença entre o veneno e o antídoto é a dose, mas no caso da nostalgia eu acho ela perigosa. Sinto-a demais e ela vem como um banho quente: não dá vontade de sair.

Os objetos do nosso passado podem representar memórias, identidade e conforto emocional, oferecendo uma sensação de estabilidade e continuidade em um mundo em constante transformação. No entanto, é importante lembrar que esses objetos não são a fonte de nossas lembranças e sentimentos, mas sim gatilhos para lembranças e emoções que residem em nossas mentes e corações. Além disso, um apego excessivo a objetos materiais pode impedir que nos concentremos no presente e no futuro, e pode levar a problemas como a desorganização e a acumulação excessiva. Na dúvida, menos é mais!

 

(*) Leonardo Stoffels é Psicólogo e atende em Cerro Largo

Fonte: Leonardo Stoffels / Psicólogo
Um tapete nostálgico
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