


Um dos principais motivos para esse desconforto é a redução na frequência do piscar
O uso prolongado de telas tem provocado um aumento nos casos de olhos cansados e irritados, um problema cada vez mais comum em tempos de trabalho, estudo e lazer digital. Os sintomas mais frequentes são ardência, sensação de areia nos olhos, vermelhidão, coceira e visão embaçada.
Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, essas queixas estão diretamente ligadas à chamada fadiga ocular digital, condição que ocorre quando os olhos ficam por longos períodos de tempo em frente a dispositivos eletrônicos como computadores e celulares.
Um dos principais motivos para esse desconforto é a redução na frequência do piscar. Em frente à tela, as pessoas piscam, em média, 60% a menos, o que diminui a lubrificação natural dos olhos e favorece o ressecamento. Além disso, o esforço contínuo para focar em textos pequenos, imagens detalhadas ou mudanças de luz também contribui para a sobrecarga da musculatura ocular.
"Quando ficamos muito tempo diante de telas, seja do computador, celular ou tablete, nossos olhos são forçados a focar a curta distância por horas, o que gera cansaço nos músculos oculares. Além disso, há fatores como o brilho da tela, contraste inadequado, má iluminação e a própria postura, que acabam sobrecarregando ainda mais a visão", explica Marcelo Taveira, oftalmologista, especialista em cirurgia refrativa, que atua em Brasília.
Para aliviar os sintomas, oftalmologistas recomendam a adoção de pausas regulares durante o uso de dispositivos. Uma das orientações mais eficazes é a regra 20-20-20: a cada 20 minutos de tela, olhar por 20 segundos para algo a pelo menos 20 pés (equivalente a 6 metros no Sistema Internacional de Medidas). Isso ajuda a relaxar os músculos dos olhos e prevenir a fadiga. Outra dica importante é ajustar o brilho das telas para que não fique nem muito intenso nem muito escuro em relação à luz ambiente.
O ambiente também faz diferença. É importante manter uma iluminação adequada no local de trabalho ou estudo, evitando o contraste entre a luz da tela e a escuridão do entorno. A distância correta entre os olhos e o monitor ideal é entre 50 e 70 centímetros e o posicionamento do dispositivo ligeiramente abaixo da linha dos olhos ajudam a reduzir o esforço visual. Também é recomendável manter-se bem hidratado e dormir o suficiente, já que a falta de sono agrava os sintomas.
O uso de colírios lubrificantes, conhecidos como lágrimas artificiais, pode ser indicado para aliviar o ressecamento, principalmente para quem passa muitas horas consecutivas em frente às telas.
"Apesar de parecer um produto inofensivo, é sempre melhor usar com orientação médica antes de usar algum colírio. Existem vários tipos de lubrificantes oculares e o que funciona para um paciente pode não ser o ideal para outro. Além disso, é importante descartar outras causas para o desconforto ocular. Se for usado um colírio inadequado, a situação pode até se agravar. Então, sempre recomendo que a escolha do colírio seja feita após uma avaliação oftalmológica detalhada" acrescenta Taveira.
Óculos com filtro para luz azul também são muito procurados como uma forma de proteção, mas os especialistas explicam que ainda há poucos estudos sobre sua eficácia.
"Embora muitos pacientes relatem melhora do conforto visual com esses óculos, os estudos científicos não comprovam sua eficácia na prevenção da fadiga ocular. Eles ajudam sim a melhorar a qualidade do sono. Mas é importante lembrar que mesmo eles ajudando a cansar menos os olhos, não substituem medidas como pausas regulares, lembrar de piscar ou até a lubrificação ocular", detalha Halim Féres Neto, oftalmologista, membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia.
Se os sinais de irritação forem frequentes ou se agravarem com o tempo, é fundamental procurar um oftalmologista. Em muitos casos, o desconforto pode estar associado a problemas de refração, como miopia, hipermetropia ou astigmatismo, que exigem correção com óculos apropriados.
"Se os sintomas persistirem mesmo com pausas e cuidados básicos, ou se houver dor, sensibilidade à luz, visão embaçada ou lacrimejamento excessivo, é hora de procurar um oftalmologista", diz Féres Neto.
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