


A minissérie Nada Ortodoxa, dividida em quatro episódios, é baseada na história verdadeira e no best-seller autobiográfico de Deborah Feldman, conta a história de Esther Shapiro ou Esty (Shira Haas), uma garota de 19 anos criada na comunidade ortodoxa Satmar Hasidic, no Brooklyn, em Nova York, completamente desligados de preceitos modernos, não tendo contato sequer com aparelhos eletrônicos e seguindo rígidas tradições religiosas.
Nesse contexto, o papel da mulher é ter muitos filhos para repor as vidas perdidas no holocausto, assim Esther casou-se com Yakovi Shapiro ou Yanki, através de um casamento arranjado. Podemos perceber o constrangimento entre os dois, que não se conheciam e não faziam idéia do que estavam fazendo. Sendo pressionada pela família de seu marido a engravidar e não conseguindo nem ao menos manter uma relação sexual, infeliz e cansada de tentar se encaixar aos costumes conservadores, ela decide então fugir para Berlim a fim de reconstruir sua vida sem a interferência de seu marido.
A protagonista conta com a ajuda de sua mãe que, apesar de não ter se feito presente em sua vida, cuidou de toda documentação necessária para sua cidadania. O destino é intrigante para o espectador, tendo em vista o passado traumático para sua comunidade e aos demais sobreviventes do holocausto.
No entanto, ao fugir seu marido e o primo viajam para encontrá-la e trazê-la de volta para casa. Nesse meio tempo, Esty, em uma cena marcante, livra-se de sua peruca kosher (as mulheres judias são obrigadas à raspar os cabelos e se casar), o que nos remete à imagem das pessoas que viviam em campos de concentração, porém para ela se torna símbolo de liberdade.
Sempre ligada à música, conhece um conservatório e faz amigos que tentam desvendar a figura excêntrica que ela representa, além de ajudá-la com a música proporcionando, mais tarde, a descoberta por um talento inesperado. Esty começa logo a vivenciar coisas que eram proibidas em sua cultura, como por exemplo, frequentar festas e percebe que há um mundo muito maior do que ela sempre viveu.
A série tem um ritmo lento, que para alguns pode ser considerado maçante, mas aborda questões importantes, como um roteiro que tem como objetivo retratar a libertação da mulher de uma cultura patriarcal e a possibilidade de recomeço. Sua simplicidade é a principal motivação para conquistar o espectador.
Uma das curiosidades da série, que a produção demorou dois anos para ser realizada, é que todos os atores são judeus, com intuito de seguir fielmente a história, inclusive os diálogos são mantidos em iídiche (idioma judaico), e não americanizados como muitas séries tendem a fazer.
Com um show de atuação, a essência da personagem é capturada através de cenas em close-up que ressaltam sua angústia e também sua esperança por uma revolução pessoal que traga sentido para uma vida outrora apagada. Vale a pena conferir!
Nada Ortodoxa está disponível na Netflix.