No dia em que escrevo, 9 de agosto, morreu o cantor norte-americano Sixto Rodriguez. Você provavelmente não conhece as suas canções e esse é um detalhe curioso: a própria invisibilidade de Rodriguez é o que torna a sua vida tão interessante.
O artista talentosíssimo a que me refiro gravou dois álbuns sensacionais no início da década de 70, era a promessa de um novo Bob Dylan, com um folk rock melancólico e introspectivo. Porém não vendeu nada! Quero dizer… não na América. Do outro lado do Atlântico, na África do Sul, Rodriguez se tornou literalmente uma lenda, vendeu mais discos do que Beatles e Elvis, só que o cantor passou praticamente três décadas sem saber que era o rei da música em um país que nem sabia que o mesmo estava vivo. Por muito tempo especulava-se entre os sul-africanos que o cantor havia se suicidado com um tiro ou ateado fogo em si mesmo no palco. Seu paradeiro só foi revelado no final dos anos 90, com o advento da internet.
Formado em filosofia, Rodriguez desistiu da música e passou a ganhar a vida fazendo bicos. Ele só teve conhecimento da fama no estrangeiro quando sua filha descobriu um site sul-africano feito para homenageá-lo. Sixto, então, viajou para a África do Sul onde descobriu sua própria rodriguezmania e realizou seis shows, para a felicidade de milhares de sul-africanos. A história toda que estou contando aqui foi revelada no documentário vencedor do Oscar Searching for Sugar Man, de 2012. De lá para cá, Rodriguez conseguiu uma notável repercussão participando de grandes festivais de música e programas de TV.
O que deve ser questionado aqui é por que um cantor com tanto potencial caiu tão rápido no esquecimento em seu país de origem. Acho que a resposta não é muito difícil, o fato é que sucesso não depende apenas de talento ou mérito, mas também de variáveis que estão além da nossa compreensão, especialmente no que se refere a influência do acaso em nossas vidas. Com isso, é de se pensar quantos Rodriguez existem espalhados por aí, quantos cantores de valor inestimável jamais chegarão a nossos ouvidos por razões que mal podem ser catalogadas.
E podemos ir além: o que impede que, no momento em que escrevo, exista uma criança lá na Tanzânia com potencial para ser mais inteligente que Albert Einstein, mas que não chegará sequer à faculdade por ter que trabalhar para ajudar com as despesas de casa? O que garante que não houveram ao longo da história jogadores de futebol mais talentosos que Pelé ou Messi, mas que por N-motivos não tiveram a chance de jogar em um grande clube? São perguntas que podem se estender a todas as áreas do conhecimento, das artes, do esporte ou qualquer coisa.
Sucesso é uma mistura de talento e acaso. Que a sorte esteja do nosso lado… E o esforço também!
(*) Leonardo Stofels é Psicólogo e atende em Cerro Largo
