


Medicamento é considerado 'padrão-ouro' para esse tipo de tratamento. Ele não tinha registro no país e precisou ser importado de forma emergencial a pedido do Ministério da Saúde
O tratamento com o fomepizol, antídoto usado para tratar a intoxicação por metanol, tem uma "dose de ataque", seguida de doses menores.
Considerado o "padrão-ouro" para esse tipo de tratamento, ele não tem registro no país e vai ser importado de forma emergencial pelo Ministério da Saúde. A compra foi feita de uma fabricante japonesa, a Daiichi Sankyo, e um lote com 2.600 frascos deve chegar ao Brasil até o fim desta semana.
Ao todo, o país já contabiliza 217 notificações relacionadas ao consumo de bebidas alcoólicas adulteradas. Desse total, 17 casos foram confirmados e 200 são investigados. O estado de São Paulo concentra a maior parte dos registros, com 15 casos confirmados e 164 sob análise.
Em entrevista à TV Globo, a Fabiana Sanches, diretora de Assuntos Médicos da Daiichi Sankyo Brasil, representante da farmacêutica, explicou como é o tratamento e como o medicamento age no organismo. Entenda abaixo:
O tratamento deve começar assim que houver suspeita de contaminação, sem necessidade de confirmação laboratorial.
"Os médicos não precisam esperar a confirmação de ser uma intoxicação por metanol. Com base na história clínica e no quadro do paciente, já podem iniciar o tratamento com o antídoto", destaca Sanches.
O protocolo inclui uma dose de ataque, seguida por doses menores a cada 12 horas, totalizando quatro aplicações principais.
"Ele vai receber a dose de ataque, com um volume um pouco maior, e as doses subsequentes, até quatro doses com 12 horas de intervalo. A manutenção vai depender do quadro clínico do paciente e, se possível, dos níveis de metanol no sangue", explicou.
A melhora costuma ocorrer dentro de 48 horas, conforme o organismo elimina o metanol.
Em casos graves, o tratamento pode ser combinado com diálise, para acelerar a eliminação da substância.
O fomepizol atua bloqueando a enzima álcool desidrogenase, responsável por transformar o metanol em substâncias altamente tóxicas ao organismo, como o formaldeído e o ácido fórmico.
Essas substâncias são as principais responsáveis pelos efeitos graves da intoxicação, que incluem cegueira, danos neurológicos e falência de órgãos.
"Todo o problema do metanol é o metabólito dele, que é transformado no fígado. O fomepizol atua inibindo essa enzima que faz a transformação do metanol nessas substâncias tóxicas. Com isso, o metanol permanece intacto na circulação e é eliminado pelos rins", explicou Sanches.
Segundo a diretora de Assuntos Médicos, o fomepizol é um antídoto mais eficaz do que o etanol farmacêutico, usado atualmente em hospitais como alternativa temporária no Brasil.
"O fomepizol tem uma ligação mais potente com essa enzima, competindo de forma mais eficaz. Por isso ele é o antídoto específico para o metanol, enquanto o etanol não é", disse.
A Polícia de São Paulo trabalha com duas linhas principais de investigação sobre as bebidas "batizadas" com metanol, que causaram diversas internações e mortes no estado.
Uma delas é que o metanol teria sido usado para a higienização de garrafas reaproveitadas que acabaram não indo para a reciclagem, segundo o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas
Outra hipótese é o uso do metanol para aumentar na produção o volume de bebidas falsificadas. Uma possibilidade é que a intenção do falsificador fosse adicionar etanol puro, sem saber que o produto estava contaminando com metanol.
A perícia feita pela Superintendência de Polícia Técnico-Científica confirmou a presença de metanol em bebidas de duas distribuidoras no estado.
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