


O que leva um jovem a deixar o seu país, atravessar o Oceano Atlântico e, 4.421 quilômetros depois, estudar no Brasil? Em busca desta e de outras respostas, que a reportagem do Portal LH Franqui entrevistou o Moustapha Daouda, 26 anos, estudante do segundo semestre do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da UFFS-Cerro Largo.
REPÚBLICA DO BENIM
Moustapha é natural da República do Benim, um país com pouco mais de 10 milhões de habitantes localizado na África ocidental, cuja capital constitucional é Porto Novo, mas Cotonou é a sede do governo e maior cidade beninense, com 690 mil moradores. Ex-colônia francesa, a então Daomé ganhou a independência total da França em 1960.
O Benim é dividido em 12 departamentos (estados), possui 77 cidades e apesar da língua oficial ser a francesa, existem mais de 50 dialetos (falados e escritos) naquele país, numa incrível diversidade linguística e cultural.
JOÃO PESSOA
Em 2017, Moustapha deixou para trás sua cidade, Epke, o pai e três irmãos e veio para João Pessoa (Paraíba), onde participou de um programa para aprender a língua portuguesa e, depois, ingressar num curso superior.
Com quatro meses no Brasil, seu pai ficou doente e Moustapha acabou abandonando o programa e começou a trabalhar, para auxiliar a família. Ele trabalhou na Paraíba e também em Goiás.
UNIVERSIDADE
No Benim, Moustapha frequentou o curso técnico em Saneamento de Água. "Havia a opção de cursar Hidráulica lá, mas preferi vir para o Brasil cursar Engenharia Ambiental. Meu projeto, no momento, é me formar, retornar para o Benim e ajudar o meu país", disse.
Em 2018, o jovem beninense participou do ENEM e conseguiu uma vaga no curso de Engenharia Ambiental e Sanitária na UFFS-Cerro Largo, onde está concluindo o segundo semestre.
O BRASIL
Sobre o Brasil e, especificamente sobre Cerro Largo, Moustapha reclama que "aqui é tudo exagerado", referindo-se ao clima. "O verão no meu país não é tão quente como aqui. Não consigo respirar direito no verão, pois além de quente é muito abafado", disse. Onde mora, há praia no Oceano Atlântico, o que torna o verão bem mais agradável. Moustapha também reclama do frio intenso no Sul do Brasil.
Ele já fala bem o português. A lingua oficial no Benim é o francês, mas existem mais de 50 dialetos falados e escritos. "Em cada cidade, há praticamente sua própria lingua", contou. As aulas são ministradas em francês mas, em casa e com os amigos, cada um fala sua língua nativa. Na sua família, por exemplo, o pai fala um dialeto e a mãe, já falecida, falava outro. E todo mundo se comunica bem, demonstrando habilidade em aprender novos idiomas.
Moustapha destaca que "nós estamos voltando a estudar as línguas nativas, valorizando a cultura beninense, num movimento de decolonização".
DIFICULDADES
Mas Moustapha tem enfrentando alguns problemas em Cerro Largo.
Dizendo gostar muito do curso, ele adiantou que está pensando em desistir.
"O lugar não é muito acolheador", reclama, se referindo ao racismo existente na cidade e na própria universidade.
"No meu país tem pessoas de todas as cores e os estrangeiros são muito bem acolhidos. Lá tem inglês, francês, japonês, libanês... Aqui parece que a gente não tem valor. Nunca sofri isso e não sei lidar com essa situação", ressalta, lembrando que em João Pessoa não passou por este tipo de dificuldade.
Moustapha está pensando em pedir transferência para outra cidade, de preferência maior, onde acredita que não terá tantos problemas com essa questão.
Para exemplificar, ele conta que "alunos de outros estados também estão reclamando do tratamento recebido aqui. Chegou ao ponto de me perguntarem se lá no Benim havia água ou, se existiam automóveis na África, desabafa.