Cerro Largo, 27 de abril de 2024. Boa Noite!
[email protected] (55) 9.9982.2424
Logomarca LH Franqui
Publicado em 26/01/2024 11:37:44 • Agronegócio

Governo prevê auxílio ao agronegócio

Medida será necessária após queda no preço de commodities como soja e milho
Imagem meramente ilustrativa (Foto: Freepik)

A queda dos preços das commodities nos últimos meses tem elevado a preocupação no setor agrícola e também no governo brasileiro. Com a perspectiva de ganhos mais baixos, o Ministério da Agricultura já estuda medidas para dar fôlego aos agricultores e evitar que problemas financeiros afetem o plantio da próxima safra neste ano e impactem as colheitas em 2025.

A ideia, segundo o assessor especial da pasta, Carlos Ernesto Augustin, é abrir uma linha de crédito via BNDES, para melhorar o capital de giro dos produtores, além de dar mais prazo para que eles paguem dívidas com o governo federal.

"Já fizemos várias reuniões com o setor para entendermos a situação. No momento, temos duas medidas em estudo: uma é conseguir aportes do BNDES para o setor, mas sem custo para o Tesouro. Outra possibilidade é adiar os vencimentos de investimentos (dívidas) deste ano e prorrogar para o último ano do contrato", disse.

 

R$ 20 bi em dívidas

Essas dívidas de produtores foram contraídas para fazer investimentos, e a ideia do governo é diferir o pagamento. Cálculos iniciais indicam passivos de cerca de R$ 20 bilhões.

De acordo com o Índice de Commodities do Banco Central (IC-Br), os preços das matérias-primas (agrícolas, de energia e minerais) caíram ao menor patamar em mais de dois anos. Em dezembro, último dado divulgado, o indicador recuou para 342,77 pontos, contra 340,69 pontos de julho de 2021. Principalmente as commodities agrícolas puxaram o índice para baixo, voltando ao menor nível desde junho de 2021.

Augustin afirma que houve uma explosão nos preços por causa da pandemia, e agora há uma "volta à normalidade". O problema, diz, é que os custos também subiram como efeito da crise sanitária, e os produtores estão agora com rentabilidade baixa: "Se a gente comparar o preço atual com a média histórica, ainda está elevado. Mas a rentabilidade está muito baixa, porque os preços dos insumos permanecem muito elevados. Eles também devem cair mais à frente, tudo isso é natural, mas é preciso dar um suporte ao setor para conseguir atravessar esse período".

Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da USP, mostram que o preço da soja, principal produto agrícola exportado pelo Brasil, recuou 23,6% em janeiro, em reais, na comparação com o mesmo mês de 2023. Já o milho caiu 20,4%, e o café, 13,3%, para citar três exemplos.

Bruno Lucchi, diretor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), diz que cadeias de produtos como café, boi, milho, soja, algodão, chegaram a ter redução em torno de 30% nos preços em reais em 2023.

Ele explica que, embora o PIB agropecuário tenha crescido cerca de 15% em 2023, quando a análise é mais ampla, ou seja, incorporando os serviços ligados ao setor, e também a indústria, houve redução em torno de 1% no ano passado. "Devemos ter uma queda de 0,8% no volume de produção este ano, em função de fatores climáticos, com quebras de safras em várias cadeias de produtos. No agronegócio, que é diferente da agropecuária, é mais amplo, podemos cair 2% ou ficar estagnado no melhor cenário", disse.

O técnico da CNA afirma que a safra agrícola deste ano deve ficar abaixo das 300 milhões de toneladas, contra o número recorde de 319 milhões de toneladas do ano passado. Nas exportações o agro, depois da alta de 4,8% em 2023, tem como melhor cenário conseguir manter o patamar de US$ 165 bilhões.

 

Menos bezerros

Lucchi alerta que a queda dos preços dos produtos agrícolas por períodos prologados, embora ajude a reduzir a inflação de curto prazo, pode impactar os investimentos por parte dos agricultores, com efeitos sobre a produção à frente. Isso faria os preços subirem rapidamente, caso a oferta fique mais restritiva: "No setor de carnes, por exemplo, está havendo muitos abates de fêmeas, como reflexo dos preços mais baixos. Com isso, haverá também menos nascimento de bezerros, com efeitos sobre a oferta mais à frente. Tudo na agropecuária tem um ciclo mais longo de produção, seja entre o plantio e a colheita, ou na criação de animais".

Levantamento da consultoria Agroconsult indica que o plantio de soja este ano terá uma queda de 6,4% na produtividade. Estados de Rondônia, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e Bahia já estão com perdas consolidadas. Para efeito de comparação, na safra passada, apenas o Rio Grande do Sul apresentou problemas.

Segundo o Itaú Unibanco, o PIB da agropecuária será de apenas 0,6% este ano, depois de uma alta projetada de 15,9% em 2023 (o dado oficial ainda não foi divulgado).

O economista Sérgio Vale, da MB Associados, explica que a queda dos preços das commodities ajuda a entender por que as projeções de crescimento da economia este ano estão baixas, em torno de 1,5%.

"Os anos de 2021 e 2022 foram de forte expansão do dólar e do preço das commodities. No ano passado, houve aumento do volume de produção. Em 2024 não tem impacto relevante em nenhuma dessas frentes. A consequência também é de crescimento menor da arrecadação, o que já começou a acontecer no ano passado", afirma o economista.

O problema é também dos cofres públicos. Apesar de o setor ser fortemente desonerado, há uma cadeia de produção por trás que aumenta a arrecadação de impostos. Segundo Bruno Lucchi cerca de 20% da arrecadação do governo federal está relacionada ao agro, quando são incorporados também os serviços e a indústria. A queda das commodities pode afetar também o investimento, que já caiu nos anos de 2022 e 2023. Um dos riscos, por exemplo, é a menor demanda por máquinas e equipamentos agrícolas.

Fonte: O Globo
agronegócio
commoditie
soja
milho
CONTINUE LENDO
Receba nossas notícias pelo WhatsApp