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Publicado em 17/09/2020 19:27:09 • Salvador das Missões

Dois amigos são exemplos de cidadania

Uma homenagem às pessoas que realizam trabalhos voluntários por amor ao próximo e à natureza
Francisco Damke e Guido Camilo Langer (Foto: Karin Schmidt)

Era uma vez dois amigos, Guido e Francisco, que se conheciam há 14 anos. Ambos carregavam generosidade, humildade e muito amor no coração. Amor pelo próximo e pela natureza. Certo dia, o mais jovem, hoje com 69 anos, Francisco Damke, começou a coletar latinhas e tampinhas plásticas para reciclagem, na Vila Catarina, interior de Salvador das Missões. "Ouvi no rádio o pessoal pedindo ajuda com a doação de latinhas, que seriam vendidas e utilizadas para melhorias no Hospital de Caridade Serro Azul, em Cerro Largo", relembra Damke. Mas, foi quando sua filha precisou ficar internada no hospital, que Francisco teve a oportunidade de conferir pessoalmente a relevância dessa iniciativa.

E quem vai relatar um pouco mais sobre isso é Carmo Angst, coordenador desse valoroso trabalho, que iniciou há seis anos por meio da Campanha de Meio Ambiente do Lions Clube de Cerro Largo, com o envolvimento de muitas entidades. "Francisco estava acompanhando a filha que estava baixada no hospital, quando lhe mostrei as benfeitorias que estavam sendo realizadas, graças a arrecadação e venda de latinhas", explica ao acrescentar: "ele ficou sensibilizado, pois percebeu que tratava-se de um trabalho que brotava aos olhos de todos", complementa Angst.

MOTIVAÇÃO

E assim, há cerca de quatro anos, Francisco começou essa coleta do bem. Não demorou muito, um ano depois, para o amigo Guido Camilo Langer, que está prestes a completar 78 anos, abraçar a causa. Além de recicláveis, os dois amigos e moradores da Vila Catarina recolhem o lixo jogado nas ruas e, quando necessário, percorrem o trajeto até a BR 392. E tem mais, sempre que podem, também limpam e plantam árvores na praça da Vila Catarina.

"Me agradou ver o meu amigo fazer algo pra ajudar as pessoas e a natureza. Acho que fazemos um bem pra comunidade e pra gente também, até pra não ter dengue, porque as latas que são jogadas na beira da estrada, na vala, quando chove junta mosquitos. E também porque é muito bom ver a cidade limpa", salienta Guido.

Para Francisco, além de fazer o bem para os outros, também faz bem a quem pratica o ato da doação. "Muitas pessoas me perguntavam, mas o que vocês ganham pra fazer isso? Daí eu dizia sempre, estamos fazendo uma doação e isso não preço. É uma física que a gente faz. Hoje cedo me pesei e já perdi 20 quilos. Tá muito bom, porque eu pesava 100", conta bem faceiro.

LADO A LADO

Guido e Francisco relatam como se organizam na execução do trabalho. "Começamos pelas ruas aqui da vila e depois seguimos até a BR. Cada um de nós percorre um trajeto, pra ganharmos tempo. O Francisco vai de carro até um pedaço pra trazermos as bolsas até o galpão dele. Daí vem o rolo, cedido pela prefeitura, que sempre nos apoiou, para amassar as latinhas. Colocamos de volta nas sacolas, que são costuradas. Depois, Francisco vai até Cerro Largo entregar na casa do Carmo Angst. Tem vezes que são mais de 90 bolsas de latinhas", conta Guido.

Francisco relembra que por algumas vezes, no dia seguinte dos bailes, no clube da Vila Catarina, ele ia recolher o material reciclável. "Primeiro eu juntava as tampinhas e latinhas, depois aproveitava e varria o salão. Deixava tudo bem limpinho para o próximo baile. Cada um de nós faz suas tarefas, mas Guido e eu sempre estamos juntos nisso tudo", explica.

COMUNIDADE

Os dois amigos relatam que hoje em dia a maioria das pessoas deixa separado o material reciclável, o que facilita o trabalho de recolhimento,que ocorre bem cedo nas terças e sextas-feiras, antes de passar o caminhão do lixo. Professor aposentado e morador naquela localidade, Emir Miguel Konzen destaca que se houvessem mais pessoas assim, preocupadas com a limpeza e com o descarte correto de recicláveis, a natureza estaria numa situação bem melhor.

"No meu entendimento, a função de limpeza de beira de estrada e na frente da casa, deve ser do próprio morador e das pessoas que residem na comunidade. Guido e Francisco merecem mais que parabéns. É louvável a grandiosidade dessa tarefa voluntária que eles realizam", exalta o professor, evidenciando que sua família sempre deixa o lixo separado para facilitar o recolhimento.

COOPEROQUE

A maior riqueza não se consolida em bens materiais, mas em atitudes que elevam a nossa dignidade. Neste contexto, o empresário e diretor administrativo da Cooperoque, Mauro Rech, destaca que "o senhor Guido e o senhor Francisco, em sua generosidade e humildade, são oriundos de uma geração de famílias onde os princípios da solidariedade, o desprendimento e o auxílio mútuo eram bases para a manutenção e desenvolvimento das comunidades".

COMO É BOM FAZER O BEM

O empresário ressalta ainda, que a sociedade atual é carente de gestos espontâneos e beneficentes e que, ações altruístas e desprovidas de vantagens financeiras, são exemplos a serem seguidos e merecem nossa gratidão e reconhecimento. "A maior recompensa para quem tem esse espírito altruísta é desfrutar do prazer, da paz e da satisfação que sentimos por ter contribuído pelo bem de outrem, seja para o meio ambiente ou para a sociedade", contextualiza Mauro Rech, ao concluir: "como é bom fazer o bem".

HOSPITAL DE CARIDADE SERRO AZUL

De acordo com Carmo Angst, coordenador da Campanha de Meio ambiente do Lions Clube, pessoas de diversos municípios missioneiros, entre eles Salvador das Missões, Cerro Largo, Mato Queimado, Rolador e São Pedro do Butiá, estão engajadas nesta ação do bem. "Muitas pessoas coletam e deixam as latas na minha casa. Outras deixam em certos pontos para eu recolher e, quando isso não é possível, faço questão de ir buscar", revela o coordenador ao explanar: "é gratificante ver frutificar esse trabalho. E os resultados estão no hospital, pra todo mundo ver. Principalmente benfeitorias na farmácia e na sala de estabilização. Muitas vidas foram salvas porque tinha uma sala de estabilização com todos os equipamentos necessários", afirma com satisfação.

GRATIDÃO

Angst expressa o devido reconhecimento aos dois amigos e a todas as outras pessoas, inclusive de Salvador das Missões, que, de alguma forma, estão envolvidas nessa iniciativa. "Guido e Francisco realizam um trabalho nobre, dedicado e que nos auxilia muito. Também o meio ambiente agradece, porque essas latas não serão jogadas no lixo e os recursos serão muito bem empregados em obras no hospital. O Lions Clube agradece, sensibilizado, ao Francisco e ao Guido, tanto a eles quanto às suas esposas, pela dedicação, carinho e compromisso com que tratam este trabalho", completa ao acrescentar que no caso de Francisco e Guido, as latinhas já são entregues amassadas, prontas para a venda.

ILUÍR E CLARICE

Mas, é claro que desde o início dessa bonita jornada, Guido e Francisco contam com outras mãos preciosas. As esposas Iluír Kaufmann Langer e Clarice Lentz Damke, sempre estiveram ao lado dos dois ajudando a coletar lixo, recicláveis e, principalmente, saúde, autoestima e bondade. Ah sim, as duas também têm o dom de plantar e cultivar flores, muitas flores, tanto que dá gosto chegar na casa delas.

LEGADO SOLIDÁRIO

Quando perguntei aos dois amigos até quando iriam fazer este trabalho voluntário, me responderam de maneira igualmente fraterna. Francisco: "enquanto eu tiver saúde vou continuar fazendo isso. Ninguém tá livre de precisar dos serviços do hospital de Cerro Largo. Vale a pena ir lá ver de perto o resultado disso tudo. Ajudar as pessoas e cuidar da natureza faz bem pro corpo e pra alma".

Guido: "a gente seria mais feliz se não achasse lixo nas ruas, e não tem ideia até onde vai o bem que fazemos. Quando a gente não puder mais trabalhar, tomara que as futuras gerações se prontifiquem e continuem esse serviço. Mas, enquanto eu puder firmar os pés, vou seguir gastando os chinelos nessa empreitada".

Como termina a história?

Então, não termina porque enquanto houver por aí, Guidos e Franciscos fazendo a sua parte, preocupados com o ser humano e com a natureza, sempre existirá esperança de que dias melhores virão.

Fonte: Karin Schmidt, jornalista e documentarista
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