Por Leonardo Stoffels
Dizem que o pensador grego Crisipo de Sólis (m. 206 a.C.) faleceu de uma forma bem inusitada: após embebedar o seu burro de estimação com vinho, o filósofo teria literalmente morrido de rir ao ver animal tentando comer figos. Se for verdade, não é a única vez que o humor mata uma pessoa: em 1660, Thomas Urquhart, intelectual escocês, teve um ataque de riso, que o levou a óbito, quando soube que Carlos II tomara o trono da Inglaterra.
Rir é um dos comportamentos mais peculiares do ser humano, um dos mais prazerosos e… raramente um dos mais perigosos. Além das mortes descritas acima, já houve uma epidemia do riso. Aconteceu na Tanzânia. Em 30 de janeiro de 1962, três meninas começaram a rir num internato em Kahasha, um vilarejo na então Tanganika, hoje Tanzânia. As risadas logo tomaram 95 das 159 alunas da escola, sendo que a instituição fechou as portas para evitar tumultos. Em maio a escola reabriu, mas logo fecharia pelo mesmo motivo de antes, o riso havia recomeçado. Com o tempo, outras escolas do país foram tomadas pelo surto, e assim a epidemia do riso durou de seis a dezoito meses. No total, 14 escolas foram fechadas e 1 000 pessoas foram afetadas, os sintomas iam além do riso e incluíam dor, desmaios, flatulência, problemas respiratórios, erupções cutâneas, ataques de choro e gritos aleatórios.
A história acima parece inacreditável (se dúvida, pesquise no Google!) , mas a verdade é que o riso é sim contagiante. Pense em todas aquelas séries de comédia e esquetes de humor com risadas pré-gravadas, como Os Trapalhões, A Praça é Nossa e A Escolinha do Professor Raimundo, no Brasil, e Friends, Um Maluco no Pedaço e Mr. Bean, em outros países. Rir fica mais fácil quando ouvimos outras pessoas rirem também.
As melhores lembranças que tenho relacionadas ao riso são as da infância. Quando somos crianças, tudo é mais engraçado, temos uma leveza, inocência e ingenuidade que perdemos na vida adulta. De fato, até mesmo os comediantes têm dificuldade de rir de tudo, afinal não são poucos os profissionais que sofrem ou sofreram de depressão: Chico Anysio, Fausto Fanti, Whinderson Nunes, Jim Carrey, Robin Williams… todos esses homens que nos fazem ou faziam rir lutaram contra este male.
Isso não significa que rir não seja um remédio. Não sei se é o melhor, mas chega perto. Rir pode nos manter vivos, há relatos de que judeus em campos de concentração não deixaram de contar piadas, assim como hoje há ucranianos se divertindo com memes sobre a guerra terrível em que estão inseridos.
Eu só queria saber qual foi a grande piada contada na Tanzânia em 1962. Queria rir também, mas dessa vez sozinho!
