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Publicado em 24/12/2022 09:33:42 • Opinião

Aquela vez que o mundo não acabou

As crises mostram que numa batalha entre razão e emoção, a primeira facilmente apanha da segunda
Crédito: Reprodução

Hoje, enquanto escrevo (21/12), completam 10 anos de um apocalipse que não aconteceu. O mundo era pra ter acabado em 21 de dezembro de 2012, de acordo com uma profecia... Não, pera, nem era profecia, é que o Calendário Maia marcava só até essa data (ao menos foi o que eu entendi) e a internet ou algum maluco conspiratório desocupado interpretou que aquilo era o fim dos tempos. E não foi a primeira vez que esse tipo de situação ocorreu!

O fim do mundo já foi profetizado desde a primeira transcrição da Bíblia e a cada ano ou dois surge alguma previsão de que a Terra vai entrar em colapso de alguma forma. Dos casos recentes, um dos que causaram mais alvoroço foi o bug do milênio. Eu tinha apenas 4 anos, então não tenho lembrança, mas foi um marco na cultura a crença de que a virada de 1999 para 2000 traria algum tipo de apocalipse tecnológico. É que os computadores da época supostamente não estariam preparados para o novo milênio, isso porque, desde os anos 1960, eles usavam calendários internos com dois dígitos. Depois do ano 99, viria o 00, que as máquinas entenderiam como 1900 ou como 19100, e não como 2000. A crença era de que o erro resultaria em um efeito dominó catastrófico em que aviões cairiam, cofres que dependiam de computadores seriam saqueados em massa, bancos quebrariam, assim como o fornecimento de luz, água e… enfim, o desespero deixa a imaginação coletiva mais criativa para inventar tragédias.

Mas a sensação de que o mundo vai acabar não ocorre apenas no coletivo ou em profecias apocalípticas, às vezes o fim do mundo é apenas o medo de encarar a vida em situações ameaçadoras. A perda de um emprego, de uma relação amorosa, de um pai ou mãe, ou de uma oportunidade idealizada. Esses momentos nos colocam em desespero pelo vício psicológico da comparação, a nossa mente está sempre comparando passado e futuro, o antes e o depois. Uma pessoa apaixonada, por exemplo, pode colocar no amor romântico a crença de que esse amor é um ingresso para uma vida diferente e mais interessante, com a perda do objeto amoroso o apaixonado iludido tem que encarar o desamparo e a “chatice” de voltar para vida “normal”, e assim o seu “mundo” (idealizado) acabou.

Mas o caos é sempre passageiro, embora deixe marcas, claro. As crises mostram que numa batalha entre razão e emoção, a primeira facilmente apanha da segunda. Não é que somos seres totalmente irracionais, mas, como diria Nelson Rodrigues, “a razão é um esforço”. Ou seja, precisamos sair do piloto automático emocional para conseguir raciocinar e encontrar a resiliência de entender que todo fim tem um recomeço. Senão o mundo acaba!


(*) Leonardo Stoffels é Psicólogo e atende em Cerro Largo

Fonte: Leonardo Stoffels / Psicólogo
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