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Publicado em 23/06/2023 10:38:43 • Opinião

Não notamos o ar que respiramos

O essencial é invisível aos olhos e precisamos enxergar de vez em quando
Crédito: Reprodução

Na psicologia se usa muito o ar como metáfora para descrever algo que não se sente, mas que é essencial. Podem ser tanto necessidades fisiológicas e médicas, quanto financeiras ou afetivas. A gente só sente a necessidade dessas coisas quando elas não são atendidas, sendo que isso inclusive pode moldar a nossa percepção de mundo e ser influenciado por antecedentes históricos.

Tomemos por exemplo o estilo de vida que temos em contraste com o de nossos pais e avós. A geração baby boomer, nascida entre 1945 e 1964, cresceu trabalhando e se agarrando a qualquer oportunidade para enriquecer e garantir aos filhos o que não tiveram. A geração X, com nascidos entre 65 e 81 fez o mesmo, embora já com menos sacrifício, pois o mundo se encontrava mais abundante economicamente. Foi a chamada Me generation, a geração eu, com atitude autocentrada, focada no aqui e agora. Estes foram os pais da minha geração (embora os meus especiais sejam boomers), a Y, que, assim como a atual (Z), cresceu com um mundo repleto de oportunidades, empregos e infinitas opções de entretenimento. A minha geração tem muita coisa bacana, especialmente no que se refere a desconstrução de valores arcaicos e preconceitos há anos enraizados na mente dos (hoje) velhos. Mas ela tem um probleminha: não reconhece algumas coisas que foram essenciais para a geração de meus pais, tios e avós, como finanças, emprego, casamento…tudo que é estável, repetitivo e ordinário é visto como sem graça, pois a vida seria o que acontece fora disso.

Para millenials e zennials não falta o ar que eu me referi na introdução. Mas o excesso de "ar", de segurança e conforto também traz seus problemas. Existe um ramo na ciência chamado de hormese, que estuda os efeitos benéficos da administração de pequenas a moderadas doses de estímulos tóxicos/ e ou dolorosos, como frio, calor, mudanças gravitacionais, radiação e restrição alimentar. Por exemplo, minhocas expostas a temperaturas acima dos seus habituais 20ºC (35ºC durante duas horas) viveram 25% de tempo a mais e tiveram 25% a mais de probabilidade de sobreviver a temperaturas altas subsequentes do que as minhocas não expostas (mas calor em excesso faz mal, quatro horas de exposição no experimento diminuiu em um quarto o período de vida das pobres minhocas. Cidadãos japoneses que foram expostos a baixos níveis de radiação no ataque nuclear (baixos, não confunda com os que viviam na vizinhança da explosão atômica,) de 1945, representaram um nível levemente menor de mortes e registros de câncer em comparação com os que não foram expostos por nenhum grau de radiação.

O fato é que o não nos mata nos fortalece e o que não nos fortalece nos deixa mais fracos. Precisamos de adversidades para que a vida se mantenha dinâmica e que sejamos pessoas mais interessantes. Por isso precisamos perder um pouco de oxigênio para que tenhamos noção das coisas que importam. Afinal, o essencial é invisível aos olhos e precisamos enxergar de vez em quando!

 

(*) Leonardo Stoffels é Psicólogo e atende em Cerro Largo.

Fonte: Leonardo Stoffels / Psicólogo
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