Quando eu estava na catequese, aos 10 ou 11 anos, lembro de ter uma breve paixonite por uma colega — aliás, nem lembro se era colega, mas lembro que "cursava" a catequese na mesma época que eu. Cometi o erro de dizer que gostava dela para um amigo meu (se estiver lendo abraço aí, Lucas!), — e a "notícia" logo chegou até ela. Nos encontramos, eu e ela, um dia a sós em uma sala e o que poderia ter sido o início de uma historinha de amor tornou-se um estudo social sobre como duas pessoas não poderiam estar mais ridiculamente constrangidas. Ela ficou de passar um recado da minha professora e eu nunca esqueci o quanto ela tremia enquanto transmitia a informação. E não era um tremor no sentido de "eu também me sinto assim por você", e sim no sentido de "Deus, alguém me tire daqui!" — ou seja, ela tremia de vergonha, ao passo que eu pegava fogo por dentro… também envergonhado.

A vergonha é um dos grandes sabotadores da vida. Ela leva (mesmo que indiretamente) muitos a buscarem terapia pelos danos que causa ao impedir que as pessoas se conectem com o que desejam. Não são poucas as oportunidades que perdemos por não conseguir enfrentar aquele rubor facial que é desencadeado pela imagem mental que fazemos da opinião de terceiros.

É um sentimento muito peculiar, revela o quão frágil nós somos. Nada é capaz de pôr nossa identidade em xeque mais do que a vergonha. Aliás, se você é uma pessoa muito envergonhada, provavelmente já sonhou várias vezes que estava nu em público. Esse tipo de sonho é clássico na psicologia e aparentemente aponta a insegurança do sujeito com sua necessidade de ser visto, há um confronto entre ter visibilidade e bloqueios construídos pelo inconsciente

Por falar em público, é curioso notar que muitos dos melhores atores, cantores, e demais artistas são tímidos. A timidez é prima-irmã da vergonha, ela nada mais é do que um egocentrismo reprimido. A maioria das vezes quem mais se sente na necessidade de receber a atenção dos outros é justamente aquele que não a recebe, por razões muito particulares e que resultam em autossabotagem.

O que precisa ser dito sobre a vergonha é que ela é o indicativo de nossas próprias limitações enquanto pessoas. Ela é um freio para os nossos potenciais, um lembrete de que não nos sentimos tão bons quanto nossa mente gostaria que o fossemos, ainda mais quando você é um moleque asqueroso parado na frente da garota que você gosta. Para esse pecado, a catequese não me preparou!

(*) Leonardo Stoffels é Psicólogo e atende em Cerro Largo.